Aqui compartilho contos, crônicas, poesia, fotos e artes em geral. Escrevo o que penso, e quero saber o que você pensa também. Comentários são benvindos! (comente como ANÔNIMO e assine no fim do comentário). No "follow by E mail" você pode se cadastrar para ser avisado sempre que pintar novidade no blog.

domingo, 10 de novembro de 2013

Crônicas Californianas III: On the Road

Um dos grandes baratos de uma viagem é imaginá-la antes de embarcar. Uma viagem começa bem antes da viagem em si: podem ser semanas, meses, até anos, dependendo do tempo entre o início do projeto e sua realização. Depois, quando finalmente acontece, é interessante confrontarmos a realidade que encontramos com aquilo que imaginamos. Nem sempre é fácil manter viva a imagem idealizada depois de vivermos a experiência de fato. Às vezes coincide, às vezes pode ser bem diferente. Melhor ou pior, mas dificilmente igual ao imaginado.

Poucos lugares do mundo exibem uma variedade tão grande de paisagens e climas tão próximos uns dos outros. A maioria talvez imagine a Califórnia como um litoral ensolarado com praias de areia fina, gente sarada e bronzeada exibindo-se sobre patins, skates ou em barras de ginástica estufando seus músculos, o que é verdade se você for a Los Angeles. Outros imaginarão boulevards ladeados de palmeiras e mansões espetaculares, percorridos por carrões conversíveis dirigidos por gente famosa escondida atrás de bonés, lenços de cabeça e indefectíveis óculos escuros. Acredito que seja isso mesmo se você pensa em Hollywood. Mas não era essa a Califórnia que eu ansiava por conhecer.

Em direção á Sierra Nevada.
O estado mais próspero dos Estados Unidos tem muito mais. Entre o litoral ensolarado e as montanhas da Sierra Nevada existe um grande hiato semidesértico atravessado por estradas de retas longas e onduladas, uma paisagem árida e monótona, em boa parte irrigada para dar lugar a extensas plantações, na maioria vinhedos e pomares. As estradas em si foram uma atração à parte. Cresci e ainda vivo assistindo road movies como “Easy Rider”, “Thelma e Louise”, “Encurralado”, “Bonnie and Clyde”, “Little Miss Sunshine”, “Lolita”, “Deu a Louca no Mundo”, “Crossroads”, “Rain Man”, e, mais recentemente, a versão cinematográfica de Walter Salles Jr para “On The Road”, o icônico livro já cinquentenário de Jack Kerouak. Além, claro, dos nacionais “Bye-bye Brasil” e “Central do Brasil”. Adoro o gênero. Pegar a estrada tem o significado do inconformismo e da mudança, de deixar para trás o que não se quer mais e partir em busca de algo melhor, muito embora na maioria dos filmes do gênero não fique claro o que se busca e onde se quer chegar. Talvez o destino não tenha nenhuma importância, o próprio ato de estar na estrada significando liberdade, desapego, abertura para novas experiências, a possibilidade de assumir o controle da vida e escrever o próprio destino com novas tintas, a possibilidade de novas amizades, o estreitamento de afinidades recentes.


Califórnia 1, em Big Sur.
Seja margeando o litoral acidentado do Big Sur, seja atravessando desertos; cruzando com comboios de Harley Davidson montadas por tiozões de barba grisalha e jaquetas pretas, as franjas de couro na ponta dos guidons agitando ao vento; e com as magníficas carretas GMC com suas chaminés resfolegando óleo diesel, suas buzinas que parecem apitos de trem ou de navio e seus cromados lindamente exagerados; seja subindo a Sierra Nevada, onde em meia hora se passa do deserto escaldante, os roadrunners (o beep-beep que atazana o coiote no desenho animado) atravessado a pista em alta velocidade, para a úmida e temperada paisagem de pinheiros e sequoias, onde se pode ter que frear bruscamente para não atropelar uma ursa e seus filhotes; seja nos postos de gasolina, verdadeiros oásis de civilização no meio do deserto, ou nos hotéis de beira de estrada, era essa a Califórnia que queríamos ver e vimos. A sensação foi de estarmos em um filme, bem no meio de onde acontece a ação. Então, era sintonizar a rádio Lithium para ouvir Foo Fighters, Alice in Chains, Smashing Pumpkins, Green Day ou Nirvana. Ou então, se a nostalgia levasse mais longe no U Turn do tempo, ajustar o rádio para a Classic Rock e ter o som de dinossauros como Deep Purple, Def Leppard, Iron Maiden, Nazareth, White Snake e Tin Lizzard como trilha sonora para a paisagem que desfilava pela janela. Uma viagem visual e acústica para dentro de um cenário de filme, agora real.

Café, para abastecer o estômago antes da viagem.

Um desses, encapetado, cismou de matar Dennis Weaver em "Encurralado", primeiro sucesso de Steven Spielberg.

Coleguinha de estrada abastecendo.
Subindo a Sierra Nevada.

Little Miss Sunshine, só que em azul.

Atravessando o Sequoia National Park



Um comentário:

  1. Suas fotos e suas crônicas, pinturas são maravilhosas.
    Você é um homem abençoado, pois Deus lhe deu várias aptidões e você soube transpor tudo que sabe e vive em cada coisa que faz. Seja ela qual for. Escrevendo , pintando, fotografando, sendo medico sendo amigo. Admiro você e que Deus conserve esta sensibilidade; Pois hoje em dia é raro ver este conjunto em uma só pessoa. bjs <3

    ResponderExcluir