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segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Politicamente Correto e o Direito de Opinião

Freedom of Speech, por Norman Rckwell
Vejo nos dias de hoje um exagero perigoso do PC - Politicamente Correto. Existe enorme apetite da mídia em divulgar frases infelizes. A exposição ingênua (para não dizer exibicionismo puro e simples) dos anônimos em geral e das celebridades da hora, via Twitter, Facebook, Blogs e outras ferramentas de nossos tempos multiconectados facilita muito o trabalho. Não é à toa: seções tipo "entre aspas" das revistas semanais fazem enorme sucesso.

A bem da verdade,  todos dizemos umas asneiras de vez em quando (embora alguns sejam campeões). Coisas que nos envergonhariam se fossem publicadas: opiniões preconceituosas, frases infelizes, julgamentos tendenciosos ou equivocados. Lementavelmente, asneiras são muito mais fáceis de se ouvir do que frases inteligentes e opiniões relevantes. 

Nesta matéria, existe uma oposição entre dois conceitos de difícil convivência: a liberdade de expressão de um lado, e o combate ao chamado hate speech do outro, a incitação por meios de comunicação do ódio ou da violência contra qualquer grupo racial, étnico, religioso, político ou sexual. Em quase todos os  países, o hate speech é crime. Porém, nos Estados Unidos, a defesa da liberdade de expressão (freedom of speech) é tido como um valor maior do que o combate ao hate speech. A liberdade de expressão é um direito previsto não apenas na constituição norte-americana, mas também na Declaração Universal dos Direitos do Homem, elaborada na ONU e ratificada por quase todos os países (pelo menos no plano teórico). Porém, em muitos lugares e épocas, o livre pensar é só pensar, como disse Millor Fernandes. Mesmo nos Estados Unidos, a guerra fria fez o Macartismo parecer aceitável para a maioria dos americanos, assim como o Onze de Setembro pareceu legitimar a violação da privacidade de cidadãos de origem muçulmana em tempos recentes.

No plano doméstico, por exemplo, o deputado Jair Bolsonaro ou qualquer outro cidadão brasileiro tem todo o direito de ser contra a união estável entre homossexuais, embora não tenha direito a incitar o ódio ou a discriminação contra homossexuais. Publicar no Twitter "faça um favor a São Paulo: afogue um nordestino no Tietê", como fez uma estudante de direito recentemente, é crime. Mas alguém dizer para seu vizinho "eu não gosta de pretos" (ou negros, ou, na linguagem PC, afro-descendentes) seria crime ou direito sagrado de opinião?

Há o risco do Politicamente Correto ser utilizado para restringir a liberdade de opinar, de questionar e de se manifestar contra o Sistema vigente, seja ele qual for. Citando Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Mais que burra, a unanimidade é a receita infalível para a estagnação e o atraso a longo prazo. Tanto faz se a unanimidade é imposta ou fruto de conformidade espontânea de um povo bovino. Os jovens atuais, que não viveram o regime de exceção, não têm a menor idéia do perigo que isso representa. Há, no Brasil de hoje, um relaxamento natural que pode ser (vem sendo?) utilizado pelo Sistema vigente para abafar qualquer idéia dissonante.

Se devemos nos indignar contra a prisão do Prêmio Nobel da paz Liu Xiaobo e o cerceamento da liberdade do artista plástico Ai Weiwei pelo governo chinês, devemos também defender com ardor o direito de Jair Bolsonaro ser contra a união estável entre pessoas do mesmo sexo, independente de concordarmos ou não com ele. Vale reler 1984, de Orwell. E já na antiguidade, o poeta romano Juvenal se preocupava: afinal, quem vigia os vigilantes?

domingo, 5 de junho de 2011

Pagode do Fim do Mundo

A proposta era clássica: "O Que Você Faria Se o Mundo Acabasse Amanhã", em forma de poesia. Imaginei como o Dicró, ilustre sambista, pagodeiro na melhor acepção da palavra, resolveria a parada. Humildemente, pedi inspiração aos sambistas vivos e mortos. Saiu o que se segue. Como não tem partitura, tentem imaginar uma mesa de bambas, com cerveja, uma branquinha, violão, cavaquinho, pandeiro e, claro, umas belas mulatas requebrando junto à mesa.
(aceito parceria para a música).

Pagode do Fim do Mundo

Apareceu-me um anjo num sonho
Me disse que o mundo já ia acabar.
Caí da cama num susto medonho
E achei que o melhor era me preparar.
Tomei uma branquinha, beijei a vizinha,
Soltei o cachorro, comi vatapá.
Mandei ver no torresmo, cerveja e picanha.
A consulta com o doutor eu mandei desmarcar.

(Refrão)

Por quê?
Porque vai se acabar!
Porque vai se acabar!
Deixa de ser mesquinho, aproveita o restinho,
E senta pra ver o mundo se acabar.

Pensei em ligar pro patrão e avisar
Mas o tempo era pouco pra tanto, afinal.
Torrei a poupança, gastei em brinquedo,
E fiz pra molecada um segundo Natal.
Falei: não precisa seguir pra escola
Comprei bala, pipoca, doce e guaraná.
Organizei uma pelada na praça
É chutando uma bola que eu vou me esbaldar.

(Refrão)

Depois tomei banho e botei um perfume,
Chamei minha nega pra gente deitar.
Não dormi de touca, eu beijei na boca,
Namoramos como antes de a gente casar.
Quando ela dormiu, levantei de mansinho
E fui pra varanda pra ver o luar.
Peguei o cavaco e fiz esse pagode,
Se amanhã vai dar bode, hoje eu vou caprichar.

(Refrão)

Obs: letra registrada sob nº 22899901d110605h131120_m1 no CCB