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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Missão Aves do Pantanal: 1 - Preparativos

O incrível udu-de-coroa-azul, uma das jóias míticas da coroa do Pantanal
Planejamos e fizemos reservas para cinco dias no Pantanal Norte com seis meses de antecedência. A principal motivação era a observação e o registro fotográfico da avifauna da região. Em outras palavras, ver e fotografar passarinhos! A princípio, a viagem parecia distante e foi por um tempo eclipsada pelas atribulações do dia a dia. Mas à medida que a data de embarque foi ficando mais próxima, o imaginário começou a tomar conta dos pensamentos.

Sem sair do Estado do Rio, eu vinha me aproximando arduamente da marca de 200 espécies de aves fotografadas (cada registro original é chamado de "lifer" no meio dos observadores de pássaros ou birdwatchers). A possibilidade de fazer muitos novos lifers era concreta, mas quanto seria uma expectativa realista? Quarenta, 50, 80, 100? Esforcei-me para evitar grandes esperanças que pudessem vir a se transformar em frustração e tentei me concentrar em fazer boas fotos, independente da quantidade de aves fotografadas. Também temia me descobrir aquém da missão de registrar de forma minimamente competente tudo que viria a se apresentar diante da minha lente. Por outro lado, o treinamento que vinha tendo com fotógrafos de pássaros mais experientes e competentes (referência especial a Ana Gadini) e o fato de ter acumulado algumas "horas de voo" fotografando dentro da mata fechada característica do bioma da mata atlântica, pelejando para flagrar choquinhas e outros pássaros tímidos e arredios em meio ao emaranhado escuro do sub-bosque da floresta, me dava um mínimo de otimismo para as prometidas facilidades do bioma em geral amplo, aberto e bem iluminado do Pantanal (acabei descobrindo que sim! muitas espécies pantaneiras se escondem dentro das matas das "cordilheiras", como são chamados os trechos de terra permanentemente a salvo das inundações anuais do Pantanal). Enfim, sentimentos contraditórios e muita ansiedade.

Restava-me aliviar a tensão fazendo o "dever de casa". Filtrei no Wikiaves a relação de pássaros já registrados em Poconé (MT), nosso destino no Pantanal Norte. Eram 346 espécies, descobri, a grande maioria inexistentes no Estado do Rio e em geral desconhecidas para mim. Muitos pica-paus, muitos gaviões, muitos papagaios e afins, além das grandes aves dos brejos como o tuiuiu e o cabeça-seca, por exemplo. Depois passei algumas semanas usando o tempo livre para ver as imagens fotográficas dessas espécies, ouvir seus cantos e baixar uma seleção deles para meu velho celular para eventualmente utilizá-los como play-back (reprodução do canto para atrair espécies mais arredias).Enfim, busquei me familiarizar com meus futuros modelos fotográficos. Isso se mostrou fundamental em algumas situações, como narrarei depois.

Depois, o check list: repelente para insetos em gel e spray, pomada antialérgica, band-aid, merthiolate, protetor solar, anti-alérgico oral; separei até seringas e cortisona injetável para eventuais reações alérgicas mais violentas a picadas de insetos (sendo eu médico, a eventual indicação e aplicação não seria problema); lanternas recarregáveis, o celular com os play-back, boné, calças grossas à prova de espinhos, dois pares de tênis confortáveis (leia-se bem usados) tipo trecking (de cano alto e sola grossa), meias grossas de cano alto que permitissem enfiar a boca da calça dentro delas. Quanto ao equipamento fotográfico propriamente dito, levaria duas câmaras Canon: uma EOS 7D com minha lente Sigma 150-500 mm para os pássaros e a "velha" EOS 4D com lente 18-200 mm para fotografar a paisagem e as pessoas; notebook e cabo para baixar as fotos; monopé, recarregadores de baterias, baterias sobressalentes para as câmaras, flash e pilhas sobressalentes, cartões de memória extras para as câmaras, flanelas para as lentes (as que vêm acompanhando os estojos de óculos são ótimas, e devem ser levadas a campo para manter as lentes sempre limpas); e mochilas impermeáveis para proteger o equipamento de chuvas inesperadas.

Levaria o guia "Avifauna Brasileira", de Tomas Sigrist, mas este acabou ficando sempre na pousada para consultas no fim do dia. O "Guia Fotográfico Aves do Pantanal", de Sérgio Endrigo, acabou se mostrando mais prático em campo, por ser mais leve e ter um único índice com nomes em português, em inglês e em latim. Como descobriríamos mais tarde, os guias locais muitas vezes sabem o nome das aves em inglês mas não em português (a razão eu conto depois).

Pesquisei qual seria o preço de ter um guia passarinheiro exclusivo, mas o valor cobrado foi proibitivo, pelo menos para mim: US$ 1.800, 00! Isso mesmo, dólares. Descobrimos depois que isso teria sido um gasto totalmente desnecessário.

Três dias antes, as malas e mochilas estavam prontas e o material todo preparado, passagens e voucher do hotel prontos. Mas um detalhe ridículo quase pôs tudo a perder.

(continua no próximo post)


2 comentários:

  1. Ralph, parabéns pelo blog! Sua narração é perfeita, estou empolgaldo e ao mesmo tempo ansioso para o restante. Espero encontra-lo logo para ouvir pessoalmente suas experiências! Abraços! Luciano.

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  2. Ótimo relato, Ralph!

    Sinto-me honrada em você citar meu nome! Como sempre tô disposta a ajudar!

    Que bom que deu tudo certo na viagem e no seu retorno!

    Parabéns pelos lifers! Tô ansiosa para ver todas (rs) as fotos!

    Abraços,

    Ana Gadini.

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