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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bianca e Sultão


Fabinho rompeu o noivado com Eveline quando ela tinha 28 anos e, desde então, ela nunca mais engrenou um relacionamento sério. Amigas a alertavam que a ânsia do matrimônio a lhe transbordar dos olhos e porejar da pele afugentava os namorados já nos primeiros encontros. Não conseguia deixar de imaginar como ficaria o rapaz de fraque lhe aguardando no primeiro degrau do altar. A custo admitiu para si mesma que a perspectiva da solidão e a condição de titia lhe assombravam os dias e as noites.

Aos poucos, o medo foi cedendo lugar à desesperança e à conformidade e, sem se dar conta, abdicou da vaidade. Os quilos se acumulavam, aos poucos deformando sua outrora sedutora silhueta, e os primeiros cabelos brancos chegavam sem merecer a vigilância de uma tintura. De mais a mais, seus cabelos passavam agora a maior parte do tempo presos por um descuidado elástico. Suas roupas, antes escolhidas com capricho, e os decotes que sempre eram assinalados por um pingente bem calculado foram aos poucos perdendo lugar para o que ela chamava de conforto, essa prioridade das mulheres que abdicam da própria graça. Tornou-se por fim uma cínica, passando a integrar o triste contingente das que repetem o mantra de que “homem é tudo igual”.

Numa das muitas noites insones em que ficava diante da tela do computador tendo por companhia apenas a caixa de bombons ou o pacote de biscoitos, foi arrastada pela curiosidade e entrou num site de encontros. Aos quarenta e poucos, já tinha perdido as esperanças de virar o jogo da solidão, mas tinha desenvolvido o prazer amargo de observar outras mulheres a se enredarem em relacionamentos que na sua maioria, segundo ela, terminariam em desgosto. Depois de duas semanas, decidiu incorporar uma heroína vingativa. Com o nick de Bianca Bandida, passou a lançar iscas virtuais que eram avidamente abocanhadas por diversos homens. Com a boca cheia de chocolate, comprazia-se em vê-los implorarem por um encontro, que ela adiava indefinidamente. A sensação de poder e o sabor agridoce da vingança lhe traziam, acreditava, consolo pelas desventuras passadas. Até que um dia calhou de teclar com um certo Sultão Carioca.

O Sultão, ao contrário dos demais, não parecia ter pressa em conhecê-la pessoalmente. Escrevia sem erros ortográficos, com elegância e graça. Em vez de alardear suas qualidades ou insistir em descrições físicas, parecia interessado em conhecer seus gostos e suas emoções. Era engraçado sem ser grosseiro. E aos poucos, Bianca, ou melhor, Eveline se viu ansiando por teclar com o Sultão a cada noite. Quando se deu conta, percebeu em si inequívocos sintomas da mais vulgar paixão. Lutou em vão contra esse sentimento que julgava ter sepultado em definitivo. E, como já temia e previa, o Sultão acabou por manifestar o desejo de conhecerem-se pessoalmente. Com o pânico e o desejo se digladiando em seu íntimo, fez-se de difícil sem, contudo, fechar questão para seu Sultão. Decidiu enfim que queria encontrá-lo, mas as providências teriam que ser tantas... Corte e tintura nos cabelos, compra de novas roupas, sapatos e depilação não constituíam maiores problemas. O peso sim, requeria tempo e esforço. Com a urgência dos apaixonados, procurou nutricionista e endocrinologista, matriculou-se em academia e divorciou-se de seus companheiros bombom e biscoito. Tentava equilibrar o tempo que a balança exigia com a impaciência do Sultão.

Três meses mais tarde e quinze quilos a menos, decidiu que era chegada a hora. Revelou-se Eveline para o Sultão Carioca que, na verdade, era o Wellington de Niterói. Combinaram de encontrarem-se num quiosque da Lagoa.

No dia e hora marcados, tremendo nas sandálias de saltos altos, ficou de longe observando. Viu a chegada de um homem vestido conforme a descrição combinada. Aparentando estar na casa dos quarenta, pareceu-lhe bem apessoado e interessante. Respirou fundo e caminhou em direção a ele: “Wellington?”

Conversaram por algumas horas e confirmaram as afinidades das conversas on line. Trocaram beijos, afinal, e despediram-se com promessas de novo encontro em alguns dias. Encontro esse ao qual ela nunca compareceu, alertada por uma mal disfarçada marca de sol no dedo anelar esquerdo de Wellington. Sofreu bastante, mas estava decidida a não ser a outra. Eveline, porém, já era outra. E um amor exclusivo e duradouro não tardou a lhe sorrir.

Um comentário:

  1. Digamos que o Wellington serviu como um cafajeste útil para a Eveline, né?! ;-)

    Agora, 15 kg em 3 meses??? Ralph, passa aí o telefone da Eveline pra mim, por favor...

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