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domingo, 8 de maio de 2011

Então é sobre amizade

A amizade guarda diversas semelhanças com camaradagem, mas esta é bem mais trivial. Camaradagem é como uma amizade circunstancial: são colegas de trabalho com quem nos damos bem e com quem almoçamos juntos algumas vezes. É algo que ocorre entre médico e paciente, quando uma consulta deixa de ser uma simples prestação de serviços para se tornar um encontro prazeroso entre duas pessoas em lados opostos da mesa e em pontas opostas do estetoscópio. Entre meus camaradas conto o dono da padaria do bairro, o vizinho de muro, o caixa do mercadinho próximo da nossa filial na roça, meu dentista e tantos outros. Não quero aqui desmerecer o valor das camaradagens. Elas aplainam nossas relações diárias, distribuem pequenas gentilezas, sorrisos, algumas piadas, zombarias sobre futebol e outras amenidades. Trazem um toque de personalidade e calor às nossas relações corriqueiras. Em seu conjunto, são valiosas; azeitam e amenizam a rotina, mas não são propriamente amizades.

Existe ainda a “amizades” utilitárias, como aquelas que estabelecemos com o gerente do banco, com nosso advogado, com o fornecedor ou com o cliente do nosso negócio. Temos amizades utilitárias com nossos sócios e com membros de nossa associação profissional. São relações cordiais que se fazem entre pessoas que podem ser mutuamente úteis em algum momento, presente ou futuro. São trocas de gentilezas e tratamentos privilegiados que as partes esperam, de forma mais ou menos consciente, receber em retribuição quando necessário. Incluem-se aí as relações entre aliados políticos e entre pessoas que se auxiliam para atingir um objetivo mutuamente vantajoso. Não raro, uma das partes confunde este tipo de relação com a verdadeira amizade. Quando um dos dois eventualmente deixa de deter a moeda de troca, quando, por exemplo, deixa de ocupar uma posição influente, a relação deixa de ser vantajosa para uma das partes. Então ela perde sua razão de ser e se desfaz. É quando muitas almas ingênuas se decepcionam e se tornam rancorosas, interpretando como ingratidão quando seus antigos “amigos” se afastam ou lhes viram as costas. Confundiram este tipo de relação utilitária com a verdadeira amizade, a bijuteria com a jóia valiosa.

Bem mais simples definir o que a amizade não é do que delimitar seu perímetro, suas fronteiras e sua origem. Não sei dizer se ela surge espontaneamente ou se pode ser plantada e cultivada. Qual seria o momento fatal, o toque de Midas que transforma um companheiro, um parceiro utilitário ou mesmo um completo estranho em um amigo? A mágica pode começar ao se oferecer uma carona, um sorvete ou um abrigo sob um guarda chuva. A descoberta de um interesse comum, uma afinidade em nossas crenças mais profundas e na maneira de ver o mundo. Ou ainda aquele instante em que, encorajados por uma súbita intuição, sentimos confiança para, pela primeira vez, abrirmos nosso coração sem defesas para alguém, pondo a nu nossas vulnerabilidades e incertezas.

Existem os que têm mais facilidade em fazer amigos. Não é sorte. São os que pescam com muitos anzóis, lançando, sem esforço ou premeditação, iscas de gentileza e preocupação sincera com outro, manifestas em forma de sorrisos e pequenas atenções. Estes terão mais amigos que aqueles que se preocupam apenas consigo mesmos, buscando no outro apenas a platéia necessária para falarem de si, nunca interessados em ouvir e entender. Pois que a amizade exige uma via de mão dupla.

Amizades verdadeiras são raras. Não se pautam por vínculos familiares ou matrimoniais. Podemos ou não termos sentimentos de amizade por nosso pai, nossa mãe, filhos ou irmãos. Tem sorte quem tem no marido ou na esposa um parceiro e um amigo, embora isso pareça ocorrer mais como exceção que como regra.

Diante do amigo não precisamos esconder nossas covardias, mesquinharias e obscuridades. Da mesma forma, não julgamos suas fraquezas e baixezas. A proximidade ou mesmo uma simples carta ou e-mail enviados por um amigo nos aquece, nos aconchega e nos anima. Um amigo é um irmão no plano mais elevado Quem tem um único amigo não está só e é mais rico que aquele que tem muitos companheiros, mas nenhum amigo.

Aos velhos amigos que me lêem, próximos ou distantes no tempo e no espaço, abro meu coração em mão dupla. A meus companheiros, ofereço a oportunidade de fazer florescer alguma amizade tardia, mas não menos valiosa.

2 comentários:

  1. Bela crônica. Já vou compartilhá-la com um tio, a quem tenho como grande amigo.

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  2. "Amigo é alguém que te conhece a fundo e apesar disso,te ama..."
    E,eu o sinto amigo!!!
    Linda crônica,mais uma vez,parabéns!!!

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