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sábado, 4 de janeiro de 2014

Listas de fim de ano

Passei a virada do ano na roça. À meia noite alguns vizinhos estouraram rojões, teve até alguns daqueles chuveiros coloridos. Fiquei pensando que aquilo devia estar acordando os passarinhos, assustando as corujas e atazanando os cachorros, que latiam nervosos. Éramos apenas quatro, em contraste com os milhões reunidos em Copacabana. Estouramos um espumante na varanda, nos abraçamos e desejamos aquelas coisas boas e banais que a gente sempre deseja nessa hora, sem pensar muito no assunto. Depois, apagamos todas as luzes da casa e fomos descalços para o gramado, torcendo para não pisarmos em nenhum formigueiro. Então, ficamos olhando para o céu. À medida que os olhos iam se acostumando com o breu, mais e mais estrelas se deixavam ver. Passamos ali uns vinte minutos, até o pescoço começar a doer. Depois fomos dormir. Foi bom.

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Nessa época, um dos temas mais abordados na imprensa e na TV, mais comentados nas rodas de fim de ano são as chamadas “resoluções de ano novo” ou, como dizem lá em Rio Bonito de Cima, a “wish list”. Confesso que fiquei um pouco curioso, decepcionado comigo mesmo talvez, com o fato de não conseguir imaginar nada que eu realmente deseje mudar mediante um ato de força de vontade e determinação. Exercício físico e perda de peso, por exemplo, itens onipresentes nas listas de fim de ano, não estão em minha lista inexistente. Acho que é pura sorte genética, mas meu peso hoje é seis quilos maior de quando eu terminei a faculdade, quando eu era magérrimo (magérrimo sempre me soa como sendo alguém nascido em Magé). Estou dentro da faixa saudável de peso. A barriga não é mais um tanquinho, mas também não chega antes de mim aos lugares onde vou, em boa parte porque eu bebo com bastante moderação, como idem, sem ter que me esforçar muito para isso. Se bem que atualmente passei a ter que restringir a apenas um o pãozinho da manhã e a beber apenas água no almoço. Mas minha mulher acha que eu estou ótimo, o que é um argumento definitivo. Caminho acelerado trinta minutos por dia, sete dias por semana, consequência de meu compromisso com Otto, meu personal trainer canino. Não me atrevo a me obrigar a frequentar academia, seria fracasso garantido. Quero continuar lendo regularmente, coisa que já faço por prazer, escrevendo para meus cinquenta e três leitores (contagem oficial de seguidores do blog) e pintando umas aquarelinhas enquanto isso me der prazer. Também planejo conhecer mais um lugar que eu ainda não conheça, coisa que temos conseguido cumprir também com prazer. Que bom, não preciso parar de fumar porque nunca vi graça na coisa, não preciso beber menos porque bebo pouco, não preciso emagrecer e não estou negativo na conta corrente. Que sorte a minha (e um pouquinho de juízo também).

Se eu me esforçar para resumir meus desejos, talvez eu deseje isso: que eu e você aceitemos que as coisas nem sempre acontecem como desejamos, que merdas acontecem, que estamos envelhecendo e que vamos morrer mais dia menos dia. Que isso não é culpa de ninguém: nem do patrão, nem do governo, nem do marido/esposa, da mãe ou do pai ou de qualquer outra pessoa. Que nunca teremos controle total sobre as circunstâncias. Portanto, enquanto não morremos, não vale a pena sofrer esperando que o mundo se ajuste às nossas expectativas, por mais elevadas que elas sejam, e talvez justamente por isso.

Que você e eu entendamos e aceitemos que todas as pessoas só estão tentando ser felizes, e que nem sempre elas entendem que agir prejudicando os outros não faz ninguém feliz, o que é uma ignorância lamentável, para elas próprias inclusive.

Que tenhamos paciência conosco mesmos e com os outros. Que não tenhamos medo de, na hora de decidir quem será o primeiro a dar antes de receber, sejamos os primeiros sempre, de coração aberto, aceitando de antemão que talvez não tenhamos retorno. Mas certamente teremos muito mais retorno do que se ficarmos esperando que o outro dê o primeiro passo. Isso pode ser mais poderoso e desencadear mais mudanças no mundo que passeatas ou protestos indignados.

Eu não nasci sabendo isso. Mas tive a boa sorte de cruzar com pessoas e mestres que me mostraram isso, pelo exemplo e por palavras, faladas ou escritas. Tento me lembrar sempre dessas verdades, mas às vezes me distraio e ajo como se não soubesse. Outras vezes eu me lembro, e, nessas horas, eu posso afirmar: funciona.



2 comentários:

  1. Muito bom, parabéns! Eu ainda preciso de uma wish list (emagrecer, só os 2kg femininos usuais), mas vou chegar a seu estágio de aprimoramento espiritual-profissional-amoroso-pessoal ;-)

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  2. Muito boa lista para relembrarmos! !

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