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quarta-feira, 17 de julho de 2013

O que você seria se...

No periódico da cooperativa de médicos da qual eu faço parte, havia uma coluna de entrevistas que eu achava muito interessante. Ali, um médico cooperado escolhido a cada mês respondia algumas perguntas padronizadas tipo “uma grande alegria”, “uma grande tristeza”, prato favorito, filme favorito, perfume e outras amenidades. Havia também uma pergunta cujas respostas me perturbavam: “Se não fosse médico, seria o que?” Invariavelmente a resposta era: “Médico”. Ficava me imaginando a responder as mesmas perguntas e essa questão especificamente.

Movido pela curiosidade de descobrir a paixão oculta que move cada um, costumo perguntar qual o hobby das pessoas que conheço. Alguns, para meu horror, nem sabem o que é hobby. Aí explico: é aquilo que você gosta de fazer quando não tem nenhuma obrigação a cumprir e tem tempo sobrando. Alguns dizem que gostam de dormir, outros de ler jornal. Então faço outra pergunta parecida: “Se alguém se dispusesse a pagar-lhe um ótimo salário mensal, um valor que você considerasse justo e suficiente para cobrir todas as suas necessidades em troca do trabalho que você mesmo escolhesse, que trabalho você escolheria?” A minha resposta particular? Seria fotógrafo ou repórter da National Geographic. Seria pago para conhecer culturas diferentes, conversar com pessoas de países distantes que compartilhariam comigo suas ambições básicas do corpo e da alma, conheceria e pesquisaria a paisagem e a vida selvagem do planeta. Curiosidade remunerada. Para mim, não tem nada melhor. Como meu ganha pão não é este, procuro viajar e, quando viajo, não penso em compras, mas sim em ver, conversar, sentir, viver, fotografar e registrar na memória, no coração e, às vezes, no papel minhas impressões sobre pessoas, culinária, cultura e paisagens diferentes das de minha cidade e de meu país.

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Com frequência me perguntam como eu consigo tempo para ler, escrever, fotografar, pintar e ainda exercer uma profissão exigente como é a medicina, essa amante tão ciumenta. A resposta é simples: manutenção de minha sanidade mental. E não estou sozinho em minha necessidade. Expressar-se artisticamente e deleitar-se com a expressão artística, independente de qualquer necessidade utilitária, é uma manifestação básica típica do ser humano em todas as civilizações de todas as eras, tão onipresente quanto a manifestação religiosa e, muitas vezes, indissociada desta.


Pessoas ligadas à arte são (quase) sempre interessantes, intelectualmente ricas e espiritualmente profundas. Pessoas que só sabem falar de suas profissões, do quanto faturam com elas e como gastam seu dinheiro são necessariamente chatos de galocha. Frequentar uma oficina literária ou um curso de artes plásticas, além da óbvia utilidade de desenvolver sua própria capacidade de expressão artística, é uma oportunidade única de conhecer gente inquieta, aberta e questionadora. Alguns de meus mais caros amigos eu conheci  nestes grupos. 

No curso de aquarela que frequento atualmente tenho oportunidade de conviver com designers, estudantes de belas artes, arquitetos, ilustradores de livros infantis, pessoas interessadas no desenvolvimento de padronagens para tecidos e fazedores de vinhetas para TV. Além de outros médicos, dentistas, geólogos e engenheiros que simplesmente compartilham o mesmo amor pelas artes e o desejo de expressarem de alguma forma o que eles entendem como beleza. Já argumentaram que, tendo assimilado as técnicas básicas, eu poderia aprender mais sobre aquarela gastando bem menos se simplesmente assistisse alguns dos muitos vídeos disponíveis de graça na internet sobre o assunto. Concordo. Mas a convivência com meus queridos colegas de angústias estéticas não tem preço. Preciso deles para me sentir vivo, e não apenas respirando.

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Acho que seria professor. Não de medicina como já sou mas professor em alguma área esportiva para trabalhar e formar física e moralmente crianças. Tenho tentado desenvolver a arte de escrever. As vezes falta coragem para sairmos da nossa área de conforto e as palavras fazem isso por nós!!!! Forte abraço amigo e vizinho RALPH!!!!! MANOEL RICARDO

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  2. Ralph,
    amei o texto! Como sempre, você se supera.
    Abraços,
    Rosário

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  3. adorei, meus alunos precisam ler isso!
    Márcia Franco, BH

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