Aqui compartilho contos, crônicas, poesia, fotos e artes em geral. Escrevo o que penso, e quero saber o que você pensa também. Comentários são benvindos! (comente como ANÔNIMO e assine no fim do comentário). No "follow by E mail" você pode se cadastrar para ser avisado sempre que pintar novidade no blog.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Tiro no pé





Tudo bem então, vamos deixar as coisas bem claras. Nossa relação não passa de um exercício de narcisismo mal disfarçado. Vai dizer que não percebeu? Isso, dito assim, pode ser um tiro no meu pé. Mas prefiro deixar bem claro que o que me leva a escrever e a pintar não carrega nenhum resquício de altruísmo, muito pelo contrário. Quero mais é que você me curta, me like, me ame e, se possível ligue no dia seguinte deixando um comentariozinho no Face ou no Blog: “Foi bom pra mim também”. Mas afinal, não é isso que estamos todos fazendo? Não é o que você faz quando deixa aquele monte de fotos suas com cara de inteligente e olhar cool, cercado de amigos em lugares bacanas? Fala a verdade! Então, não me critique. É patético, reconheço, mas toda vez que eu posto uma aquarela ou um texto como esse aqui no Blog, eu mal posso conter a ansiedade para verificar quantos acessos teve essa página que vos fala, quantos morderam a isca e se deram o trabalho de ler o que escrevi ou olhar o que aquarelei. Como um adolescente que fica contando quantas ele pegou na balada. Mas, me dê um desconto, não é só isso, só pegação sem sentimento. Na verdade, fico muito grato e envaidecido quando alguém, assim como você está fazendo agora, se dá ao trabalho de ler um texto desse tamanho, nesses tempos de twitter e mensagens de duas linhas, no máximo. Li outro dia que pessoas que lêem romances não passam de um por cento da população. Leitores de crônicas e contos não devem ser mais que três, quatro por cento. Portanto, caro leitor, você é uma pessoa rara!

Num buraco um pouco mais embaixo desse aspecto estritamente numérico, existem duas razões mais profundas para eu (me) expor assim o que penso, o que sinto, a maneira particular como vejo o mundo. Quero, de antemão, me desculpar se vou chover no molhado; não fiz nenhuma pesquisa teórica sobre esse assunto que, decerto, já foi e continuará sendo assunto de zilhões de teses de mestrados e doutorados: O que leva alguém a querer de expressar de modo artístico? Vou responder apenas por mim. Uma razão é a perspectiva de que vamos ficar aqui no mundo por um período bem curtinho, no qual poderemos ou não passar adiante o carma e a carga genética que nos foi confiada para, pouco depois, não sobrar nenhum vestígio de nossa breve e insignificante intervenção no universo das coisas palpáveis. Fazendo arte, seja erguendo pirâmides ou escrevendo poesia na parede do banheiro da escola, tentamos prolongar a marca de nossa passagem por uma, dez ou mil gerações. Uma forma ingênua de nos iludirmos em relação à nossa inescapável impermanência.

E outra, que já sugeri ali acima: trata-se de uma solidão que se quer dividir. Lançamos em forma de arte sondas atmosféricas, batiscafos abissais, naves intergalácticas que buscam aflitas descobrir se na sua galáxia íntima, leitor, no seu outro universo individual, existem solidões, angústias, decepções, espantos, alegrias e felicidades como as que existem do lado de cá desse teclado. Quando o que digo e escrevo faz eco aí do seu lado, é assim como quando a gigantesca nave mãe reproduz o chamado musical no filme “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”: a mensagem é um veemente SIM, eu também sinto isso, eu também tenho a mesma dúvida, o mesmo medo, o mesmo assombro. Então, você e eu nos sentimos um pouco menos sós.

Lembra do filme "Contatos Imediatos"? Veja o trailer:

6 comentários:

  1. Olá, Ralph Antunes

    Muito boa abordagem: o prolongamento da existência através da arte, no seu caso escrever e pintar, com muita sensibilidade.

    Um abraço

    Lucia Regina

    ResponderExcluir
  2. Ótimo, li até o fim sim!
    ()s
    Flávio

    ResponderExcluir
  3. Excelente texto, como sempre! Narcisos que somos, os "artistas" também demonstramos grande coragem, pois partilhamos nossa insignificância... que, oras, é bela! Beijos!

    ResponderExcluir
  4. Essa "inescapável impermanência" fica mais prazerosa quando leio os seus textos, quando me deparo com a sua arte, Ralph! Muito oportuna reflexão! Belo texto! Isso só faz com que o meu SIM, do lado de cá, fique cada vez mais veemente. Continue produzindo bastante, tá? Um abraço!

    ResponderExcluir
  5. Grande Ralph! Mandou bem. Todos buscamos um contato desde que nascemos. A busca não pára nunca, pelo menos enquanto vivemos. Alguns de nós, não poucos, até acreditam que farão contato depois da morte. O importante é que quando aprimoramos nossa forma de fazer contato, mesmo que o apelo seja narcisista estamos alimentando a matriz do que chamamos humanidade. Um abraço e obrigado pelo contato.

    ResponderExcluir
  6. ...vejo a arte como uma necessidade. Em um sentido bem amplo, cozinhar, escrever, olhar,andar, tudo tem que ter arte, a vida é uma arte. A arte, seja ela escrita ou outra forma qualquer de expressão nos proporciona os encontros e descobertas de novos horizontes em nosso interior, muito mais que no exterior. Uma única certeza,a vida é uma aventura da qual jamais sairemos vivos, então vamos viver com arte rsrsrsrsrs Mas sinceramente jamais me passou na cabeça a imagem que um dia minha arte ficará por aqui...Vo refletir sobre isso ! Seus textos são ótimos ! :-) Abçs

    ResponderExcluir