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sábado, 14 de janeiro de 2012

É nós no Face!


(Pois é, já estamos íntimos assim, eu e o Facebook, nos tratando por apelidos.)

Em meados de 2010 um amigo que mora no exterior me avisou por e-mail, (essa ferramenta hoje quase extinta fora do ambiente corporativo) que tinha postado umas fotos no FB. Eu tinha conseguido passar incólume pelo falecido Orkut. Aquela coisa orkutiana de depoimento, dizem, acabou com muito relacionamento. Achei prudente manter distância. Mas eu queria ver as fotos do meu amigo, então fiz minha página naquele que, então, já era o maior site de relacionamentos do mundo, mas que ainda era novidade por aqui. O Orkut, que só emplacou no Brasil, reinava então absoluto nessas terras tupiniquins.

Agora estou tentando olhar essa febre com o distanciamento necessário para uma visão crítica. Tá bom, eu admito; hoje não passo um dia sem checar minha página inicial. Mas isso tem me gerado um certo incômodo. Fui bastante liberal em adicionar amigos com a segunda intenção de divulgar esse blog, admito.

Sem dúvida, o Face tem o lado bom. Localizei antigos amigos de quem não tinha notícias havia anos, muitos com os quais eu cruzaria na rua sem reconhecer. Cabelos de menos, barriga de mais nos homens; senhoras louras nos seus cinqüenta, algumas delas vovós orgulhosas. Mas tem sempre um registro meio desbotado dos velhos e bons tempos no álbum de fotos para tirar qualquer dúvida. Aliás, como as pessoas estão sempre bonitas na foto do perfil, não? Também acontece de descobrir afinidades insuspeitas com pessoas com as quais eu tinha ou tenho mínimo contato no mundo real, a ponto de fazer surgir algumas boas amizades. Tem também compartilhamentos de vídeos interessantíssimos, garimpados por pessoas de bom gosto.

Mas tem o lado sinistro. Primeira constatação: tem muita gente desocupada nesse mundo de Deus. Gente que posta sem parar e, venhamos e convenhamos, não existe tanta coisa interessante assim para ser compartilhada. Uma enxurrada de abobrinhas para as quais eu não tenho paciência. Tem quem alardeie o óbvio, tipo, “hoje é segunda feira, que chato”, ou “fim de semana com chuva, ninguém merece”. Tem quem poste diariamente uma foto nova do pimpolho bonitinho que nasceu há três meses. Convenhamos também, depois de três meses nem nosso primeiro filho continua sendo novidade, quanto mais filho dos outros. Têm aqueles que, na falta de uma opinião original, compartilham aqueles quadradinhos de filosofia barata como se fosse uma revelação divina. Têm os rancorosos, os ressentidos, os sarcásticos e os felizes demais. Têm os que sempre disparam o comentário inteligente mais comum nessas páginas: o onipresente kkkkkkkkkkk... Desses, ainda prefiro os sarcásticos: em geral são mais inteligentes que a média. Por algumas das razões acima, às vezes com incidência em diversos artigos desse código penal, já excluí diversos da minha lista de amigos. Por falar nisso, alguém realmente acredita que tenha duzentos ou quinhentos amigos?

Parece-me que algumas coisas estão na base do sucesso do FB e de todos os sites de relacionamento. O mais óbvio é a necessidade de interação com o outro. Uma interação meio asséptica, onde acreditamos estar filtrando muito do que realmente somos para só mostrar o lado legal, divertido, interessante e descolado. Doce ilusão. As pessoas acabam revelando muito mais de si do que imaginam, mesmo quando pensam estar sendo comedidas. Isso para não falar dos que, virtualmente, põem a bunda na janela. Fotos sem camisa, de biquíni, com copos de bebida na mão, fotos da intimidade da família toda, da patroa, do maridão, dos filhos, de amigos e de lugares que freqüentam escancarados para um mundo de gente desconhecida ou semidesconhecida, nem sempre bem intencionada. Nem todos tomam os cuidados recomendados pelos especialistas, de só permitir acesso a certas informações aos “amigos”. Mas se são quinhentos “amigos”, de que valem esses cuidados? A prudência quase sempre cede diante de outra característica marcante no FB: o narcisismo puro e simples, a busca inconsciente da fama. “Que legal! Cinqüenta e dois curtiram o que eu postei e vinte e cinco compartilharam aquela abobrinha de segunda mão. Eu sou popular, afinal!”

Mas pode ser que enquanto nós estamos aqui interagindo virtualmente, sua esposa ou marido tenha ido dormir sozinho ou seu filho tenha desistido de esperar você largar o computador para dividir aquela angústia que tanto o está incomodando. Ele deve estar agora fechado em seu quarto compartilhando o assunto com os “amigos” do Face.

É isso. Se curtiu, compartilhe, viu? Kkkkkkkkkkkkkk...

4 comentários:

  1. A gente acaba se rendendo.....Mais é com vc disse: distanciamento, coerência, reservas, escolhas...Essa ferramenta não pode ser simplesmente um modo de fofoca online.

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  2. Mantenho-me distante desta forma de "contato" virtual. Por isso, não posso me incluir no título deste post. Apesar disso, gostei muito da sua análise, Ralph!

    Eu continuo afirmando: já tenho muitos compromissos assumidos, muitas coisas a resolver no mundo real. Prefiro manter-me alheia ao mundo virtual do Facebook, FB ou Face (para você, que já é íntimo, né?)...

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  3. E nesse caso, o que argumentar? https://www.facebook.com/TheBritishMonarchy

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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