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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Onde Está a Liberdade?


Um entendimento fundamental que o budismo abriu para mim foi a possibilidade de novas inteligências. Olhar aquilo que sempre olhamos e ver possibilidades diferentes em todos os aspectos da vida. Nas relações com as pessoas em geral, com a família, com os filhos, a esposa ou marido e colegas de trabalho. Olhar a arrumação que fizemos em nossa vida e enxergar que a arrumação poderia ser completamente diferente.

Algumas pessoas conseguem olhar para a sala de casa e imaginar como um sofá novo , uma cortina nova, poderiam dar um novo aspecto à velha sala. Umas poucas ainda fazem uma simples mas completa mudança na disposição dos móveis para fazer uma sala "nova" sem gastar nada, apenas com o que já têm, talvez se livrando de um móvel grande e trambolhudo que impede que o ambiente fique mais arejado. Um número ainda menor de pessoas consegue fazer isso em suas vidas.

Essa rearrumação às vezes pode começar com uma crise: a perda de renda, uma mudança de cidade forçada por circunstâncias, uma separação conjugal são todas ótimas circuntâncias, nem sempre aproveitadas, para arrumarmos a vida de uma forma mais leve, inteligente e funcional.

O que dificilmente se enxerga é que temos a liberdade de remexermos tudo em nossa vida sem a necessidade de que uma crise, com toda a angústia que as crises costumam trazer, seja necessária. Há uma liberdade enorme em cada dia que amanhece, mas as pessoas se sentem acorrentadas às circunstâncias e incapazes de mudar qualquer coisa em suas rotinas, muitas vezes insatisfatórias e sufocantes. Os conflitos são recorreentes, sempre nas mesmas circunstâncias, e parecem imutáveis. Por que?

A única coisa que impede a mudança é a nossa maneira de ver, ou melhor, de não ver. Nada muda porque não vemos as possibilidades, não vemos as opções, não vemos que a porta da gaiola esteve e está aberta todo o tempo.

Então, a mudança necessária e suficiente é a mudança em nossa maneira de ver, de sentir, de reagir às circunstâncias. Mas isso está longe de ser simples se estamos agarrados às nossas certezas, essas mesmas certezas que estão nos levando, como sempre levaram e continuarão levando, a situações de conflito e sofrimento. Esperamos que as coisas se adaptem às nossas certezas para que tudo passe, finalmente, a funcionar como desejamos. Que burrice, não? Isso não aconteceu até agora e não vai acontecer no futuro. Mais inteligente seria adaptarmos nossas certezas à realidade das coisas e iniciarmos um mundo de novas possibilidades, de sincronicidades, de sinergias que farão a vida, finalmente, sair da inércia.

Então, o campo ilimitado de mudança está do lado de dentro, na mente. Se não mudarmos aquilo que está atrás de nossos olhos, que impede nossos olhos de ver com liberdade, nossa visão continuará estreita e limitada. Aí entra a meditação.

A prática da meditação é o exercício da liberdade. É livrar a mente dos limites imaginados. Aos poucos, a percepção da vacuidade de tudo que parece sólido, da luminosidade inerente a tudo e a todos, da inseparabilidade de tudo que parece bom e tudo que parece ruim vão se tornando claros. A vacuidade de tudo aquilo que defendemos com unhas e dentes como sendo nosso - nossas posses, nossas crenças, nossa honra, a imagem de respeitabilidade que se cultiva diante dos outros, seja uma pessoa comum diante dos vizinhos e colegas de trabalho, seja um grande empresário ou senador da república diante de seus pares - começa a se manifestar. A clareza de visão não desfaz as grades e os muros, mas nos faz perceber que as grades e os muros só existiam atrás dos olhos que os viam como reais. Eles nunca estiveram lá.

Essa mudança tão simples é percebida como simples quando é atingida, em maior ou menor grau. É o que eu entendo como iluminação. Depois de se tomar a canoa e atravessar o rio de ignorância e cegueira, a custo de remadas diligentes e vigorosas para atingirmos a outa margem, percebe-se que não havia canoa, não havia margem, não havia rio, diz o sábio ensinamento.

Então, pratiquemos essa liberdade preciosa, essa jóia de valor inestimável que chutamos todos os dias em nosso próprio quintal.

3 comentários:

  1. Acompanho seu Blog.Ele me faz bem...Este texto, em particular, é um convite à reflexão e a mudança....
    Namastê.

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  2. Que espetáculo entrar aqui e desfrutar de leitura tão leve e saúdavel, como é bom imaginar que podemos arrumar a alma, a vida apenas mudando a forma de ver as coisas. E por que não fazemos assim então?
    Abraços Cida

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  3. Ralph Antunes,

    Somos cercados por tantos ruídos e bloqueios que mal percebemos a realidade, ou melhor, percebemos mal. Por isso, concordo com você que a meditação amplia os horizontes e aponta na direção da liberdade.

    Lucia Regina
    wwwnarrativasbreves.blogspot.com

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