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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Gatão de Meia Idade - Parte 2


Pois bem: Rogério, nosso gatão sem ritmo de jogo, atende o convite da Lidinha para aquele “jantarzinho lá em casa na sexta”. Depois de dar uma conferida nos cabelos no espelho do elevador e desabotoar um botão na camisa, ele chega ao décimo andar. Suspiro, blim-blom. Tudo é expectativa. Então, meu querido leitor, hipoteticamente falando, imagine-se no lugar do Rogério:

1 - “Oííííííííí! Tudo boooooooooom?” Lídinha está de saia rosa, blusa rosa, sandália rosa e tasca duas bitocas em suas bochechas. Ou melhor: três, que ela é de São Paulo. No aparelho de som, Luan Santana ataca com “Meteoro da Paixão”. O Luan está também em um pôster autografado na parede, escoltado por Junior sem Sandy e Daniel. Na estante da sala tem a coleção completa do Paulo Coelho e, no sofá, alguns bichinhos de pelúcia te encaram de uma forma sinistra. Você:

(      ) Pensa que devia ter trazido um bichinho de pelúcia em vez de vinho;
(   ) Se prepara para dançar “Ilarilarilariê ôôô”, beber batida de morango com leite condensado e encara;
(     ) Sai correndo com medo do Conselho Tutelar.

2 – Lídia abre a porta toda vestida de couro preto, com uma corrente no pescoço e sorrindo só com um dos lados da boca. O heavy metal soa vários decibéis acima do tolerável. Você pensa no porquê de nunca ter reparado na enorme tatuagem de caveira que ela tem nas costas. Nem nas olheiras. Deve ser efeito da luz roxa, pensa. Você:

(    ) Se prepara para comer morcego à passarinho, despenteia o cabelo, pede desculpas por não ter trazido pó em vez de  vinho e encara;
(    ) Se pergunta se não vai ser você o jantar em um ritual satânico;
(    ) Na dúvida, sai correndo antes de descobrir.

3 – Lidinha abre a porta e um forte cheiro de incenso invade o corredor do prédio. Ela está descalça, veste uma saia indiana e uma bata colorida, sem sutiã. Fica na ponta dos pés, te dá um beijo na testa e te oferece um chá verde. Pede para você tirar os sapatos e aguardar um pouquinho enquanto ela põe a lasanha vegetariana no forno e traz uns biscoitinhos de soja com gergelim. Junto da janela tem um altar com a imagem de um sujeito com cabeça de elefante e várias fotos de outros caras de cabeça raspada e roupa laranja e vermelha. No outro canto, uma fonte, daquelas com bombinha de aquário, faz barulhinho de água. Você pensa ter visto um duende passar correndo no limite de seu campo visual. Por via das dúvidas, despeja o chá no vaso de planta. Você:

(     ) Fica em posição de lótus, começa a entoar ooooohhhhmmmm, e encara;
(    ) Procura na estante se tem livro de sexo tântrico ou Kama Sutra, para decidir se encara ou não;
(     ) Diz que sua igreja não permite esse tipo de coisa, pede desculpas e sai correndo.

4 – Lidinha abre a porta, te dá um longo beijo na boca. Depois te lança um olhar maroto e diz que tem uma amiga que adora o seu blog e está doidinha para te conhecer. “Você se importa se ela jantar com a gente?” Você gagueja qualquer coisa enquanto ela te puxa para a sala. “Luana, esse é o Rogério, Rogério, essa é a Luana Piovani.” Você:

(    ) Se ajoelha e agradece a Deus;
(    ) Faz cara feia para a Lidinha e diz que, “Puxa vida, pensei que ficaríamos só nós dois”;
(    ) Infarta;
(    ) Fica intimidado e sai correndo.

5 – Lidinha abre a porta, te dá um beijo e diz “Saudações tricolores!” Está vestida de shortinho branco e camiseta baby-look autografada pelo time inteiro do Fluminense. Tem um retrato autografado do Conca na estante e um pôster do campeão brasileiro de 2010 na parede. Pergunta se você não quer assistir o “Arena SporTV” enquanto a pizza Marguerita (tricolor) não fica pronta. Você:

(     ) Grita “Neeeeenseeeee!” e encara;
(     ) Sai correndo, que você não é tricolor;
(    ) Pensa em casamento e a convida para assistir Fluminense e Ceará no Engenhão no próximo sábado à noite.

6 – Lidinha abre a porta sorrindo e te dá um beijinho. Ela está com os cabelos soltos, levemente cacheados, emanando um cheirinho bom de xampu. O perfume é suave. O vestido estampado é leve e rodado, e ela calça sandálias de salto não muito alto. Do aparelho de som vem a voz do Djavan cantando “Flor de Liz”. Na estante, muitos livros, mas nenhum do Paulo Coelho. Tem também vários CDs de jazz, rock e MPB, e várias fotos de viagem com amigas, algumas na Europa. Ela é uma graça, você pensa. A conversa flui fácil, vocês riem muito e descobrem muitas afinidades. Aí, você:

(    ) Sai correndo, porque a mulherada está toda dando sopa e você não quer correr o risco de se amarrar assim, logo na primeira;
(     ) Suspira, lamenta pela mulherada, que vai ter que se virar sem você, e encara.

4 comentários:

  1. Nas hipóteses 1 (a da Pantera cor-de-rosa) e 2 acredito que o Rogério saiu correndo. Correndo muito!!! Deixou até a garrafa de vinho espatifada no corredor do edifício.

    Na hipótese 3, o resultado da busca na estante será determinante para o fim da história.

    Não sei qual é o time do Rogério e, então, nem desconfio como foi o final da hipótese 5.

    Já, quanto à hipótese 6, tá muito perfeitinha, não acha não? A vida não é tão perfeita assim...

    Bom, como eu posso escolher, vou ficar com a hipótese mais quente: a 4! E Rogério, mesmo sem ritmo de jogo, ajoelhou, agradeceu a Deus e...

    Por último, apenas uma observação curiosa: creio que seu inconsciente lhe deu uma rasteira, meu caro blogueiro. Na hipótese 2, Lidinha virou Lídia. Estaria, aí, denotada uma certa preferência por esta hipótese??? Hahahahaha...

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  2. Desculpe as palavras.

    mas pqp,que texto bom de ler velho. acabou que eu nem vi.

    muito bom, mesmo mesmo.

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  3. Espetacular!!!! Bom demais!! Tem ritmo, timming, inteligência - bem estilo Verissimo mesmo, mas com o tempero Ralph Antunes. Ainda estou com vontade de ler, parece que não era pra ter acabado, então vai virar um texto tipo o "Homem que é homem" do Verissimo: leio várias vezes e sempre, sempre acho dou risada! Parabéns! Bjs,
    Fabiana

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  4. Corrigindo o post anterior: na última linha, tem um "acho" sobrando aí... é só "sempre dou risada"... :-P
    Outra coisa: por que será que, no meio do texto, eu já imaginava que a última versão seria assim, mais "normal" e mais favorável ao Rogério? Será que é porque conheço um pouco o escritor, ou porque ele é bom mesmo?! Acho que as duas, com mais peso pra segunda!
    Pra terminar: se vc não fosse meu aluno, eu diria: "que inveja, eu queria escrever assim!" Mas, como vc é meu aluno, eu digo: "que inveja, eu queria escrever assim, mas ele é meu aluno, gente!!!" rs...
    Fabiana

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