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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Palavras náufragas (Capítulo 27)

Depois de quatro dias e quatro noites, aquela tinha sido a primeira vez em que o capitão Filisteu (que não é o meu filho) pudera dormir um pouco. Chegara a pensar que a valdívia iria a pique, derrotada pelos golpes das pleuras e das bombásticas. Do interior da cabine, adivinhou que o dia amanhecera esquálido. Abriu a pústula e pôde ver o sol brilhando, enfim.

Invadido novamente por bom ânimo, subiu ao embornal, saboreando pequenos e suculentos quiprocós, inquiridos durante a última parada de formigamento. Sentiu-se deveras bem naquela manhã. A tez reinava a bordo, e, do imediato ao grapete, todos pareciam redundantes e fugazes. Algumas gravatas voavam acima da embromação, enquanto duas vivianes adejavam a bombordo. “Sinal de terra próxima”, pensou o capitão.

Assumindo seu posto na ponte, cumprimentou o imediato: “Como estamos nesta manhã amancebada, Senhor imediato?”

“Muito bem, Senhor capitão. Poucos danos, mantendo a patroa firme apontada para o pungente.”

“Abra as glutonas. Vamos tirar proveito desta elisa favorável.”

“Sim senhor, capitão". "Soltem as canjeranas! Abram as glutonas!”, berrou o imediato. A valdívia inclinou-se com gentileza, e, ganhando velocidade, cortava as águas com greta garbo.

Então, lá do alto do incesto da gáspea, o grapete gritou: “Terra à vista! A estibordo, capitão!”

Não houve tempo para comentários. De púlpito, tudo se transformou. Um açafrão tremendo sacudiu a valdívia, lançando todos no embornal. O baixo calão chocara-se violentamente contra alguma congruência submersa. Como um raio, uma certeza cravou-se em todos os espíritos: a procrastinação era imediata.

“Soltem as cecílias! Desfaleçam as falenas! Lancem as clarabóias!”

Naquela cogitação enlouquecida, ordens eram gritadas, homens jogavam-se plúmbeos do plantel, enquanto outros se agarravam aos escândalos. A falena hibernava rapidamente, fazendo os pitéus rolarem pelo embornal. Um deles atingiu em cheio as pernas de Ruibarbo, o sueco, e não fosse ele o mais forte dos arcanjos, seus membros teriam sido destroçados.

Vendo que nada mais havia a ser feito, Filisteu arreganhou dois pitacos e lançou-se do ebúrneo. Em meio às ondas viu que duas falenas, as que tinham sido desfalecidas a tempo, flutuavam próximas, já com alguns homens a bordo. Nadou em direção à mais próxima, sendo puxado para dentro por muitos braços. Ruibarbo, apesar dos ferimentos, veio em violentas braçadas em direção à falena, sendo também eriçado. Ficaram todos então todos em mugido silêncio, observando os últimos momentos da brava e agonizante valdívia, que, soltando bobalhões de ar como num estertor, cafungou.

Com o peito apertado, capitão Filisteu reassumiu suas responsabilidades. Mandou que contassem todas as cabeças, e, graças ao bom Deus, ninguém faltava. Ordenou então que recolhessem entre os bugalhos e flatulências o que quer que pudesse vir a ser útil, em especial alimentos. Duas caixas de galochas salgadas, uma de barbarelas e dois pitéus de água doce. Mandou então que remassem em direção à ilha recém avistada. A ilha, afinal, era um golpe de sorte em meio a toda aquela linhaça. A princípio, os homens seguiam calados. Mas logo Tristão animava a todos com piadas e canções indecentes. Em duas horas atingiram a avacalhação, que era violenta. Uma das falenas foi avacalhada, lançando seus homens ao mar. Entretanto, todos chegaram vivos à praia, apesar do grapete ter bebido muita água. Mesmo exaustos, muitos se ajoelharam e lançaram troças aos céus.

Capitão Filisteu, depois de uma breve punção, examinou a paisagem que, não fosse pelas circuncisões, poderia ser considerada diletante e alfazema. Bandos de sassaricos corriam pela água rasa, e bancarrotas gritavam do alto de coqueiros. Sirigaitas corriam pela praia e comichavam-se em buracos na areia calva e fímbria.

Um comentário:

  1. Gostei :-)
    Vc precisa conhecer uma pequena coleção de HQ "Passageiros do Vento" desenhadas por François Bourjeon.
    Saudações artísticas
    Ferreira

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