Na minha falta de modéstia, sempre me imaginei numa
entrevista, sendo perguntado sobre quais os filmes de que mais gosto. Cansei de
esperar, então vou falar mesmo sem ter sido perguntado:
1 – Dersu Uzala (1975), de Akira Kurosawa. Eu não
tinha 20 anos e não tinha namorada. Estava em cartaz o filminho romântico “Lagoa
Azul”, com a ninfeta Brooke Shields. Aos dezenove, éramos todos teens, então não era tecnicamente pedofilia
amarmos intensamente Brooke como nós amávamos (éramos apaixonados também
por Jodie Foster e, principalmente, por Natasia Kinski. Como a
filha do Nosferatu Klaus Kinski podia ser tão diabolicamente linda, meudeusdocéu!).
Alguém muito sábio me alertou que a Lagoa não era filme para ser visto sem
namorada. Risco de depressão grave.
Quando finalmente me vi namorando, a Lagoa
já tinha saído de cartaz. Levei a menina para assistir Derzu. O Cinema 1, que
depois virou o falecido Estação Icaraí, superlotado. Só nos restou sentarmos na
primeira fila. O filme me agradou tanto que não lembro do que rolou entre mim e
a garota durante a sessão. A amizade profunda entre o oficial russo e o caçador
siberiano, com sua ética, solidariedade, compreensão e respeito pela natureza
despertaram o desejo de descobrir em mim o espírito ancestral que sabe
coexistir com tudo que é vivo. As imagens da floresta siberiana e da tundra, na
neve do inverno e no calor do verão, as cenas de tensão, como a da súbita
tempestade ártica que os surpreende enquanto atravessam um enorme lago gelado,
os fantasmas e xamãs da floresta... Inesquecível.
Natasia Kinski, gatíssima |
2 – Amarcord (1973), de Federico Fellini. Onírico, doce,
fantástico, Amarcord é uma colcha de retalhos de lembranças de Fellini, reais e
imaginárias. A vida aparentemente sem graça em uma pequena aldeia italiana à
beira-mar vai aos poucos se mostrando lírica em suas pequenas tragédias, nos
personagens que vão aos poucos revelando uma humanidade sem qualquer heroísmo
ou maldade. A cena do touro branco que surge em meio à névoa, sem uma palavra
que atrapalhe a simples imersão no mundo dos sonhos, o cunhado louco que,
depois de um tranquilo piquenique em família, sobe até o alto da grande árvore
para gritar sem parar “Io voglio uma donna!” Depois de assistir-se Amarcord,
sentimo-nos invadidos por amor e compaixão quase infinitos pelo ser humano
comum.
3 – Fargo (1987), dos irmãos Coen. Já aqui, a humanidade
surge em toda a sua pequenez. Canalhas medíocres, maldades baratas, covardias e
desonestidades. Um sequestro desastrado, uma dupla de bandidos formada por um
psicopata burro e um joão-ninguém arrogante, unidos pela incompetência. Um
mandante covarde tentando aplicar um golpe no sogro avarento. Em meio a
tanta sordidez, a policial Marge Gunnarson, grávida de sete meses, é uma ilha de
virtude num mar de gelo e egoísmo. Com direito a tiros mal dados,
perseguição de carro em meio a uma nevasca, cadáveres triturados numa
picadeira de capim tingindo de sangue vivo a neve morta e gelada. Muita ação e
humor negro.
4 – O Dia da Marmota, ou Feitiço do Tempo, Groundhog Day (1993) de Harold Ramis. Uma equipe de reportagem, destacada para cobrir o Dia da Marmota na pequena Punxsutawney,
fica ilhada na cidade por conta de uma nevasca. Mais que ilhado na cidade, o
cético e sarcástico repórter Phill Connors (Bill Murray), fica aprisionado em
um dia que se repete exatamente igual a cada amanhecer. Ele só vai se
libertar da repetição sem fim se aprender algo. A parábola perfeita do ciclo de
nascimento e morte do samsara da filosofia budista. Não vale se suicidar, não
vale trapacear, não vale fingir. A única saída é fazer de novo e de novo, até aprender.
Estes são os meus. Quais são os seu quatro favoritos?
(Clique nos links para assistir os trailers)
As Pontes de Madison, Um Estranho no Ninho, Laranja Mecânica, Os ultimos passos de um homem.
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