Larissa Werneck, 20 anos.
Estudante do segundo ano de
História da UFF. Usa óculos, tem nariz grande e seios fartos. Nas raras vezes
em que solta os cabelos e tira os óculos, fica até bonita. É filha de Denizar
Werneck, dono de uma agência de automóveis na Rua Dr. Celestino, e Maria de
Lourdes Frazão Werneck, proprietária do salão de beleza “Malu Coiffeur”, no
Jardim Icaraí. Larissa não frequenta o salão da mãe, não usa maquiagem e nem
sempre usa sutiã. É vice-presidente do Diretório da UFF, onde seus discursos
inflamados empolgam até a turma mais interessada no baseado e na cerveja.
Liderou seu grupo em todas as doze manifestações e lamenta não ser homem para
ajudar na depredação dos símbolos do capitalismo burguês. Já tentou de diversas
formas, mas ainda não conseguiu ser agredida pela PM. Comprou “O Capital” de
Marx há dois anos, mas não teve tempo de ler. Nutre admiração intensa por seu
professor de História do Brasil I, Flamínio Fraga Neto. Tinha intenção de
terminar a noite com ele depois do último churrasco do Diretório. Quase
conseguiu, mas ele bebeu demais e dormiu na hora H. Acha que não vai passar de
ano. Não tem tido tempo de ler ou estudar ultimamente. Quer ser parte da
História, e não apenas assisti-la.
Matheus da Silva Costa, 19 anos.
Filho único de Cléa da Silva,
secretária de uma escola particular, e de José Carlos Costa, taxista, que Matheus
não vê desde quando cursava a pré-escola. Muito estudioso, aproveitou bem a
bolsa de estudos a que sua mãe fazia jus e passou para Direito na UFF. Não leva
jeito para futebol e não torce por nenhum time. Secretamente apaixonado por
Larissa, de quem é colega desde o primeiro grau, nunca se declarou por conta de
sua timidez. Zeloso, pretende ser bem sucedido na carreira para poder retribuir
tudo o que sua mãe sempre fez por ele. Tentando impressionar Larissa, já leu
duas vezes “O Capital”. Pela mesma razão, também leu Hegel, Maiakovski e as
biografias de Lenin e Bakunin. Atualmente está lendo a poesia completa de Paulo
Leminski. Foi a quase todas as manifestações. Só faltou a duas, porque
coincidiam com os dias de prova. Quando vai, está sempre na linha de frente,
com um olho na PM e outro em Larissa. Nas horas mais inconvenientes, em meio ao
estrondo das bombas de efeito moral, às vezes ouve seu celular tocar: é sua mãe,
preocupada. “Está tudo bem, mãe”, responde tossindo com o gás lacrimogêneo. Na
última chamada, distraiu-se e levou uma bala de borracha na testa. Exibe a
marca como um troféu. Postou a foto no facebook no mesmo dia, esperando pelo
menos uma curtida de Larissa, o que não aconteceu.
Flamínio Fraga Neto, 43 anos.
Professor assistente de História,
separado de Lucimar Loyola, com quem teve um filho. Não sabe bem se bebe demais
por causa da separação ou se Lucimar o deixou porque ele bebia demais. Vem
empurrando o mestrado com a barriga há quatro anos. Tinha intenção de ser escritor.
Conseguiu dois terceiros e um segundo lugar em oito anos de participações em
concursos literários. Teve contos publicados em duas coletâneas. Nunca escreveu
um romance. Atualmente coordena o concurso literário anual da universidade. Nas
coletâneas do concurso, publica um currículo seu nas duas últimas páginas, onde
aparece em foto sem camisa e declara-se um caçador de estrelas. Na verdade, é
um caçador de alunas do segundo ano.
Denizar Werneck, 52 anos.
Pai de Larissa e marido de Malu.
Filho de corretor de imóveis e professora primária. Abandonou os estudos no fim
do segundo grau, quando o pai morreu de infarto. Ralou como contínuo, assistente
administrativo e vendedor de carros usados. Extrovertido e bem falante,
descobriu-se um ótimo vendedor. Trabalhou como autônomo, juntou dinheiro e hoje
é sócio da maior revenda de usados de Niterói. Mora numa mansão em condomínio
fechado na região oceânica. Usa cordão e pulseira de ouro, que somados, pesam mais
de cem gramas. Orgulha-se de sua trajetória. Assim que pôde, levou a família à
Disney. Adora Miami, onde passa férias e faz compras. Sonha secretamente em
mudar-se para lá. Alardeia nunca ter votado no PT, mas na verdade votou sim, na
primeira candidatura contra Fernando Collor. Não consegue entender Larissa,
aquela menininha que está abraçada com o Mickey na foto sobre sua mesa no
escritório. Acha que as posições dela têm alguma coisa de pessoal, e a falta de
gratidão da filha o deixa magoado. Odeia Chávez, Lula, Dilma, Fidel e Evo
Morales. Mas seu maior pesadelo são os fiscais da receita, os abutres que ele
tem que alimentar com propina. Também, “se fosse arcar com toda essa absurda carga
tributária do país, já teria falido há muito tempo”.
Amei!!!!
ResponderExcluirO enredo está pronto. Os personagens, devidamente estruturados. Agora só falta o cronista sentar e fazer o conto, a novela, o romance. Então nós, os leitores, poderemos testemunhar o quanto da criação se vale da realidade, ou será o oposto? Na dúvida, literatura na veia, Ralph, para o todo e sempre.
ResponderExcluirAbço,
Adriana Riva
Ansiosa, aguardo pra saber o que acontecerá na vida destas personagens, Ralph!
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