Estava eu comendo uma fatia de
torta de banana com suco de laranja ontem, em uma confeitaria da Cobal de Humaitá, no
Rio, quando o diálogo entre duas senhoras ali pelos seus 50 anos, que aguardavam na
fila sua vez de pagarem suas contas, começou a ficar mais exaltado e chamou minha atenção.
Debatiam sobre a validade ou não do bolsa-família. Uma, aparentemente
sem pretexto algum, começou a externar sua discordância em relação ao programa.
A segunda, que depois se identificou como professora universitária e eleitora
de carteirinha do PT, começou a argumentar a favor, sem que conseguisse, ou
talvez nem pretendesse, demover a primeira de suas posições. Vendo que não
chegariam a um acordo, a segunda começou a dizer de modo veemente: “A senhora é
de direita, é isso que a senhora é. Direitista!” A “direitista” então saiu da
confeitaria sem contra argumentar, deixando atrás de si as balconistas
felicitando a professora por sua vitória (por abandono do ring) no debate relâmpago.
Nestes tempos de intenso debate
político no Brasil, parece que as pessoas estão sendo classificadas de maneira
simplista e maniqueísta em “de esquerda” e “de direita”.
Quem é de esquerda, na visão dos
de direita, come criancinhas no café da manhã. Quem é de direita, na visão da
esquerda, come o café da manhã das criancinhas.
Numa utilização equivocada deste raciocínio simplista,
ser contra o vandalismo é ser de direita e ser a favor seria coisa da esquerda. Mas criticar o mensalão e querer os mensaleiros presos seria coisa da direita? Ser
a favor do fim dos partidos políticos seria coisa da direita ou da esquerda? Os
que lutam contra as restrições às liberdades individuais em Cuba seriam de
direita? E os que são contra as privatizações seriam de esquerda? Me arrepio
quando militantes do PT minimizam o mensalão tanto quando adversários do PT
pedem o impeachment da Dilma. Fica claro que uma classificação apenas em
esquerda ou direita não é capaz de definir uma série de posições políticas em
qualquer contexto.
Existe outra dimensão além da
horizontal esquerda-direita. Na vertical, somos libertários ou autoritaristas. Você pode ser tanto de direita como de esquerda e ser libertário ou autoritarista. Fidel é a esquerda autoritarista, assim como Stálin. Os
militares que deram o golpe de 1964 eram de direita, mas tão autoritaristas quanto os
comunistas que temiam e combatiam. Milton Friedman representa a
direita simples, enquanto Margareth Thatcher seria a direita-autoritarista. Ser
contra a plena liberdade da imprensa e acreditar que o
mensalão foi um mal necessário não fazem de você um militante da esquerda, mas sim
um militante do autoritarismo. Então, é bom não confundir uma coisa com a outra.
Existe um teste muito
interessante e esclarecedor disponível no site Political Compass (link) que
ajuda a definir o seu perfil político. Leva 5 minutos para ser respondido e pode
ser feito em inglês ou em espanhol (para versão em espanhol clique no ícone no
canto superior esquerdo da página do link). Respondi as questões e o veredito é
que sou de esquerda libertária. Estou na honrosa companhia de Gandhi em minhas posições.
Longe tanto de Stálin quanto de Thatcher. Vejam meu laudo (o ponto vermelho):
Sou mais socialista (esquerda) que liberal (direita), e mais anarquista (embaixo) que fascista (em cima), mas longe dos extremos.
Sou mais socialista (esquerda) que liberal (direita), e mais anarquista (embaixo) que fascista (em cima), mas longe dos extremos.
Façam o teste e descubram quais
são realmente suas posições políticas. Depois me digam nos comentários. talvez vocês se surpreendam com seus laudos.
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