Num artigo de 1949, publicado na revista "Monthly Revew", Albert Einstein se posiciona a favor do socialismo e contra o capitalismo. A Segunda Grande Guerra terminara havia pouco, e homens de boa vontade, como Einstein, viam na possibilidade do socialismo uma esperança para um mundo mais justo. Passados 64 anos, a história já testou a hipótese socialista. Onde ela foi uma opção democrática alcançada gradualmente pela vontade da população, ela vingou e deu frutos. Onde ela foi imposta de cima para baixo pela força por um pequeno grupo, ela fracassou. Einstein acreditava nas virtudes morais do novo homem socialista, enquanto Orwell alertava que a essência do homem não muda, independente do sistema político vigente. Como político, Einstein era um físico excepcional. Orwell, por sua vez, continua atual.
Aqui apresento a íntegra do artigo de Einstein, onde faço críticas (em amarelo) e comentários. Os SEUS comentários também são bem vindos.
Aqui apresento a íntegra do artigo de Einstein, onde faço críticas (em amarelo) e comentários. Os SEUS comentários também são bem vindos.
Por que Socialismo?[N1]
Albert Einstein
Maio 1949
Primeira Edição: Monthly Review, nº 1, maio 1949.
Origem da presente Transcrição: Monthly Review.
Tradução: Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves para o Marxists Internet Archive, Janeiro 2007.
HTML de: Fernando A. S. Araújo .
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.
Origem da presente Transcrição: Monthly Review.
Tradução: Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves para o Marxists Internet Archive, Janeiro 2007.
HTML de: Fernando A. S. Araújo .
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.
É aconselhável que alguém que não é um especialista
em assuntos econômicos e sociais expresse suas opiniões acerca do tema do
socialismo? Creio, por uma quantidade de razões, que sim.
Consideramos primeiramente a questão desde o ponto
de vista do conhecimento científico. Poderia parecer que não há diferenças
metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas de
ambos os campos tentam descobrir leis de aceitabilidade geral para um grupo
circunscrito de fenômenos com o objetivo de fazer a interconexão destes
fenômenos tão claro quanto for possível. Mas na realidade tais diferenças
existem. O descobrimento de leis gerais em economia se complica pela
circunstância de que os fenômenos econômicos observados são freqüentemente
influenciados por muitos fatores que são muito difíceis de avaliar
separadamente. Além disso, a experiência que se acumulou desde o princípio do
chamado período civilizado da história humana tem sido — como é sabido —
grandemente influenciada e limitada por causas cuja natureza não são de nenhum
modo exclusivamente econômicas. Por exemplo, a maior parte dos Estados na
história devem sua existência à conquista. Os povos conquistadores se
estabeleceram, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país
conquistado. Atribuíram-se o monopólio da posse da terra e designaram para o
sacerdócio alguém de suas fileiras. Os sacerdotes, com o controle da educação,
fizeram da divisão de classes da sociedade uma instituição permanente e criaram
um sistema de valores mediante o qual dali em diante o povo foi, em grande
medida inconscientemente, guiado em sua conduta social.
Mas a tradição histórica é, por assim dizer, de
ontem; em nenhuma parte temos realmente superado o que Thorstein Veblen chamou
de “a fase depredadora” do desenvolvimento humano. Os feitos econômicos
observáveis pertencem a esta fase e suas leis não são aplicáveis a outras
fases. [Primeiro] Dado que o propósito real do socialismo é superar e avançar
além da fase depredadora do desenvolvimento humano, a ciência econômica em seu
estado atual não pode deixar muita luz sobre a sociedade socialista do futuro.
Segundo, o socialismo está dirigido para um fim
social-ético. A ciência, sem embargo, não pode criar fins nem, ao menos,
induzí-los nos seres humanos. Mas os fins em si mesmos são concebidos por
personalidades com elevados ideais éticos — estes propósitos não são rígidos
senão vitais e vigorosos — são adotados e levados adiante por aqueles muitos
seres humanos que — quase inconscientemente — determinam a lenta evolução da
sociedade.
Por estas razões, deveríamos estar atentos a não
sobrestimar a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas
humanos, e não deveríamos assumir que os especialistas são os únicos que têm
direito e expressar-se sobre as questões da organização da sociedade.
Inumeráveis vozes têm afirmado desde já algum tempo
que a sociedade humana está passando por uma crise, que sua estabilidade está
gravemente prejudicada. É característico desta situação que alguns indivíduos
se sintam indiferentes, ou integrados, ou hostis ao grupo que pertencem, seja
ele grande ou pequeno. Para ilustrar este ponto, deixem-me registrar aqui uma
experiência pessoal. Recentemente discuti com um homem inteligente e bem
disposto a ameaça de outra guerra, a que em minha opinião colocaria seriamente
em perigo a existência da humanidade, e comentei que somente uma organização
supranacional poderia proteger-nos daquele perigo. Depois, o homem, calmamente
e friamente, me disse: “Por que você se opõe tão profundamente ao
desaparecimento da raça humana?”
Estou seguro que apenas um século atrás ninguém
teria afirmado tão levianamente algo semelhante. É a declaração de um homem que
se esforçou em vão para alcançar um equilíbrio interior e basicamente perdeu a
esperança de alcançá-lo. É a expressão de uma solidão e isolamento de que muita
gente sofre hoje em dia. Qual é a causa? Tem uma saída?
É fácil fazer estas perguntas, mas é difícil
respondê-las com alguma segurança. Devo tratar, contudo, da melhor maneira que
se pode, mesmo eu sendo consciente da ação de nossos sentimentos e esforços que
podem ser contraditórios e obscuros e que não podem ser expressados em fórmulas
fáceis e simples.
O homem é, ao mesmo tempo, um ser solitário e um
ser social. Como ser solitário, busca proteger sua própria existência e aqueles
que são mais próximos, para satisfazer seus desejos pessoais e desenvolver suas
habilidades inatas. Como ser social, busca conquistar o reconhecimento e o
afeto de seus semelhantes para compartilhar o seu prazer, confortá-los com sua
solidariedade e melhorar suas condições de vida. Só a existência destes
esforços, freqüentemente em conflito, podem dar conta do caráter especial do
homem, e sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode
alcançar o equilíbrio interior e contribuir para o bem estar da sociedade. É
bem possível que a força relativa destes dois impulsos diversos esteja,
basicamente, fixada pela herança. Mas a personalidade que finalmente emerge
está em grande medida formada pelo entorno em que o homem se encontra durante o
seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição
desta sociedade, e por sua valoração de diversos tipos de condutas. O conceito
abstrato “sociedade” significa para o indivíduo a soma de suas relações,
diretas e indiretas, desde os seus contemporâneos até as gerações anteriores. O
individuo é capaz de pensar, sentir, atuar, e trabalhar por si mesmo, mas sua
dependência da sociedade é tanta — em sua existência emocional e intelectual —
que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora do marco da sociedade. É a
“sociedade” quem lhe proporciona comida, roupas, ferramentas de trabalho, linguagem,
as formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; sua vida se
faz possível graças ao trabalho e às conquistas dos muitos milhões,
contemporâneos e antepassados, que estão escondidos detrás da pequena palavra
“sociedade”.
É evidente então que a dependência do indivíduo
pela sociedade é um feito natural que não pode ser abolido — exatamente como no
caso das formigas e das abelhas. Sem dúvida, enquanto todas as ações das
formigas e das abelhas estão fixadas até o menor detalhe por instintos rígidos
e hereditários, os capatazes sociais e as interrelações dos seres humanos são
muito variáveis e suscetíveis à mudança. A memória, a capacidade de realizar
novas combinações, o dom da comunicação oral têm feito possíveis
desenvolvimentos nos seres humanos que não são ditados por necessidades
biológicas. Estes desenvolvimentos se manifestam nas tradições, nas
instituições e nas organizações; na literatura; nos avanços científicos e nos
engenhos; nas obras de arte. Isto explica como ocorre que, em certo sentido, o
homem possa influir sobre sua vida através de sua própria conduta e que neste
processo o pensamento e os desejos conscientes são muito importantes.
O homem adquire ao nascer, por meio de herança, uma
continuação biológica que é fixa e inalterável, que inclui os impulsos naturais
que são característicos da espécie humana. Ademais, adquire durante sua vida
uma constituição cultural que adota da sociedade por meio da comunicação e
através de muitas outras formas. É esta constituição cultural que, com o passar
do tempo, está sujeita às mudanças e que determina em grande medida a relação
entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna nos ensinou, usando o
estudo das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos
pode apresentar grandes diferenças, dependendo dos padrões culturais
prevalecentes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto
que podem fundar suas esperanças aqueles que se esforçam em melhorar as
condições dos homens: os seres humanos não estão condenados, por sua
constituição biológica, a aniquilarem-se uns aos outros, ou à mercê de um
destino cruel e de castigos.
Se nos perguntamos como deveriam ser transformadas
a estrutura da sociedade e a atitude do homem para fazer a vida tão
satisfatória como possível, deveríamos estar conscientes de que somos incapazes
de modificar certas condições. Como foi mencionado antes, a natureza biológica
do homem não está, a todos efeitos práticos, sujeita à mudanças. Ademais, as
condições criadas pelos desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos
últimos séculos chegaram para ficar. Nos locais com população relativamente
densa, com os produtos que são necessários para sua existência, uma profunda
divisão do trabalho e um aparato altamente centralizado são absolutamente
necessários. Os tempos – que em perspectivas parecem tão idílicos – em que
homens ou grupos pequenos podiam ser completamente auto-suficientes se foram
para sempre. É apenas um leve exagero dizer que a humanidade já constitui uma
comunidade planetária de produção e consumo.
Até aqui, perfeito o diagnóstico. Vejamos as
soluções propostas:
É alcançado agora o ponto aonde posso indicar
brevemente o que para mim constitui a essência da crise de nosso tempo. Está
relacionado com o individuo e sua relação com a sociedade. O indivíduo está
mais consciente do que nunca de sua dependência da sociedade. Mas não sente
esta dependência como um traço positivo, como um laço orgânico, como uma força
protetora, mas uma ameaça a seus direitos naturais, ou a sua existência
econômica. Por outro lado, sua posição na sociedade é tal que os impulsos
egocêntricos de sua constituição são constantemente acentuados, enquanto que
seus impulsos sociais, naturalmente mais débeis, se deterioram
progressivamente.
Não é isso que estamos vendo no Brasil, pelo
contrário: estamos vendo um aumento dos impulsos sociais (embora não com a
rapidez desejável) e uma diminuição dos impulsos egocêntricos, e dentro de um
contexto democrático.
Todos os seres humanos, em qualquer posição da
sociedade, sofrem este deterioramento progressivo.
Vejo justamente o inverso, como disse acima.
Imaginar que o egocentrismo é um impulso inevitável pode justificar o uso da
força para uma revolução violenta. Eu acredito na LENTA mudança das
consciências da maioria na direção de um impulso socializante, que é melhor
para a sociedade como um todo.
Involuntários prisioneiros de seu próprio
egocentrismo se sentem inseguros e privados do mais inocente e simples desfrute
da vida. O homem só pode encontrar o sentido da vida, curta e perigosa como é,
consagrando a sociedade. Perfeito
A anarquia econômica da sociedade capitalista de
hoje em dia é, em minha opinião, a verdadeira fonte dos males. Vemos diante de
nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros se esforçam
incessantemente em privar o outro dos frutos de seu trabalho coletivo — não
pela força mas cumprindo inteiramente as regras legalmente estabelecidas. A
este respeito é importante dar-se conta de que os meios de produção — isto é:
toda a capacidade produtiva necessária para produzir bens de consumo assim como
bens de capital adicionais — podem ser — e em sua maioria o são efetivamente —
a propriedade privada de alguns indivíduos. Sim
Para simplificar, na discussão que se segue
chamarei “trabalhadores” os que participam na propriedade dos meios de
produção, apesar de isto não corresponder ao uso corrente do termo. Usando os
meios de produção, o trabalhador produz novos bens que transformam-se em
propriedade do capitalista. O ponto essencial deste processo é a relação entre
o que o trabalhador produz e o que lhe pagam, ambos medidos em termos de valor
real. Em quanto o contrato do trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe
está determinado não pelo valor real dos bens que produz mas por suas
necessidades mais básicas e pela necessidade de força de trabalho por parte dos
capitalistas em relação ao número de trabalhadores competindo por empregos. É
importante entender que nem sequer na teoria o salário do trabalhador é
determinado pelo valor do que produz.
Aqui entram os sindicatos e a união dos
trabalhadores em geral. Além da qualificação profissional, que diminui o número
de trabalhadores menos qualificados e mal remunerados e aumneta o número de
trabalhadores qualificados e esclarecidos, capazes de exigir melhor remuneração
ou greve.
O capital privado tende a se concentrar em poucas
mãos, em parte devido à competência entre os capitalistas, e em parte porque o
desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho alentam a
formação de unidades maiores de produção em detrimento das menores. O resultado
destes desenvolvimentos é uma oligarquia do capital privado cujo enorme poder
não pode ser controlado efetivamente nem
sequer por uma sociedade política democraticamente organizada (há controvérsias. Basta ver o que vem ocorrendo
hoje no Brasil). Isto é assim porque os membros dos
corpos legislativos são selecionados pelos partidos políticos, em grande medida
financiados ou de alguma maneira influenciados por capitalistas privados que,
por todos efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo
não protegem suficientemente os interesses dos grupos não privilegiados da
população. Verdade. Por isso devemos lutar, na minha opinião, pelo
fim do financiamento de campanha por pessoas jurídicas. Sou a favor do financiamento
público + por pessoas físicas. Por outra parte, nas
condições atuais os capitalistas privados controlam, direta ou indiretamente,
as principais fontes de informação (imprensa escrita, rádio, educação). É então
extremamente difícil, e por certo impossível na maioria dos casos, que cada
cidadão possa chegar às conclusões objetivas e fazer uso inteligente de seus
direitos políticos. Nem tanto. Mas certamente, não
justifica o controle da imprensa pelo Estado. O que viria a ocorrer é que o
próprio Estado passaria a vetar matérias de oposição, como ocorre nos
regimes totalitários.
A situação prevalecente em uma sociedade baseada na
propriedade privada do capital está então caracterizada por dois princípios
mestres: primeiro, os meios de produção são propriedade de indivíduos, e estes
dispõem deles como melhor lhes parecer; segundo, o contrato de trabalho é
livre. Supostamente, não existe sociedade capitalista pura, neste sentido. Em
particular, deve-se assinalar que os trabalhadores, por meio de grandes e
amargas lutas políticas, tem conseguido uma forma um tanto melhorada do “livre
contrato de trabalho” para certas categorias de trabalhadores. Mas, tomada como
um todo, a economia atual não difere muito do capitalismo “puro”.
Esta mutilação dos indivíduos é o que considero o
pior mal do capitalismo. Nosso sistema educativo como um todo sofre este mal.
Uma atitude exageradamente competitiva se inculca no estudante, que é treinado
para adorar o êxito da aquisição como uma preparação para sua futura carreira.
Estou convencido de que há somente uma forma de
eliminar estes graves malefícios: através do estabelecimento de uma economia
socialista, acompanhada por um sistema educacional que seja orientado para fins
sociais. Em tal economia, os meios de
produção são propriedade da própria sociedade e utilizados de maneira
planejada. Uma economia planejada, que ajuste a produção às necessidades da
comunidade, distribuiria o trabalho entre todos aptos a trabalhar e garantiria
os meios de vida de todos, homem, mulher e criança. A educação do indivíduo,
além de promover suas próprias habilidades inatas, intentaria desenvolver em um sentido de responsabilidade por seu
próximo, em lugar da glorificação do poder e do êxito em nossa sociedade atual.
Aqui é que o socialismo (ou comunismo)
não se deu bem nos testes de campo, ou provas práticas. Este sistema teórico se
baseia na premissa de que o homem socialista é altruísta e valoriza mais o bem
coletivo que o bem individual ou de seu grupo restrito (seja o indivíduo, sua
família, sua categoria profissional, seu partido político. Vide o PT). Os
indivíduos á frente do novo Estado socialista acabam por tentar reter privilégios
para seu grupo restrito mais próximo. SEMPRE acontece isso na prática,
principalmente se não houver democracia e imprensa livre para denunciar estes
privilégios.
E ainda, mas não menos importante: a propriedade
comum dos meios de produção pela sociedade, e a abolição da possibilidade de
lucro individual, na prática se mostraram desestimulantes para um ambiente
criativo e de progresso tanto material como social. Um ambiente onde não há a
recompensa de retorno (pelo menos de uma parte) para o indivíduo que se supera e produz
mais ou desenvolve meios e tecnologias mais criativos de produzir (a chamada “destruição
criativa”, vide Bill Gates e Steve Jobs), acaba por minar o impulso criativo e
o progresso tanto material quanto social. Isso explica o por que de a Alemanha
Ocidental capitalista em menos de meio século passar a ter uma renda per capta
3 vezes superior à de seus irmãos orientais que seguiram pelo caminho socialista,
inclusive com melhores serviços públicos para os cidadãos ocidentais. Com a queda do
muro, não houve um desejo dos ocidentais de igualarem aos irmãos do leste. Foi
justamente o contrário. Outro exemplo são as duas Coreias, com amplas repercussões
no nível de desenvolvimento social de ambas. Aqui a diferença é muito mais
gritante: A renda dos coreanos do sul é 30 (TRINTA!) vezes superior à dos coreanos
do norte, que literalmente passam fome.
Sem embargo, é preciso recordar que uma economia
planificada não é todavia o socialismo. Uma economia planificada como tal pode
ser acompanhada pela completa escravização do indivíduo. A realização do
socialismo requer a solução de alguns problemas sócio-políticos extremamente
difíceis: “como é possível, considerando a muito abarcadora centralização do
poder, conseguir que a burocracia não seja todo poderosa e arrogante? Como
podem proteger os direitos do indivíduo e mediante ele assegurar um contrapeso
democrático ao poder da burocracia?” Na
prática, até agora, ninguém descobriu como. A fábula da Revolução dos Bichos
mostra o que acaba ocorrendo na prática.
Ter claras as metas e problemas do socialismo é de
grande importância nesta época de transição. Dado que, nas circunstâncias
atuais, a discussão livre e sem travas destes problemas são um grande tabú,
considero a fundação desta revista [N2] um importante
serviço público.
Mais ainda: há uma contradição nesta teoria:
Inicialmente, Einstein afirma “Por outro lado, sua (do indivíduo) posição na sociedade é tal
que os impulsos egocêntricos de sua constituição são constantemente acentuados,
enquanto que seus impulsos sociais, naturalmente mais débeis, se deterioram
progressivamente.” Se ele acredita nisso, como justificar
a sugestão (contraditória) de que a implantação do socialismo através de uma
revolução, e não através da lenta e gradual mudança de consciência da sociedade,
podem de uma hora para outra criar, como num passe de mágica, uma sociedade de
indivíduos e dirigentes altruístas, mais inclinados ao social que ao
individual? Mais uma vez, a experiência mostra que essa expectativa irreal e
excessivamente otimista (em que Einstein, contrariando a si próprio, afirma
não acreditar) não se cumpre na prática.