Não é apenas prendendo, muito menos matando estes jovens criminosos que vamos dar solução definitiva ao problema, embora a sensação de impunidade certamente incentive a criminalidade. O que eu quero dizer é que só com aumento da repressão policial ou pior, fazendo-se justiça pelas próprias mãos, como acreditam tantos cidadãos decentes que proclamam que "bandido bom é bandido morto", vamos dar solução a isso. Na verdade, milhares de jovens criminosos morrem todo ano em confronto com a polícia ou pelas mãos de outros criminosos, incluindo-se aí os criminosos que se autodenominam "milicianos". Outros milhares são trancafiados em presídios, de onde a maioria sai brutalizado e com pós-graduação em bandidagem. A cada um que é preso ou morto, parecem surgir outros dois para continuar a escalada criminosa. Não há solução através da repressão, apenas. Há que se tentar entender qual é essa a motivação irresistível que a vida de crimes tem para tantos.
Esses jovens criminosos de hoje têm mais escolaridade, comem melhor e moram melhor que seus pais. Então, porque optam pelo crime quando seus pais, mesmo mais carentes, persistiram na honestidade? A desigualdade tem sua parcela de culpa, claro. Mas, então, porque a criminalidade só cresce enquanto a pobreza e a desigualdade têm sido reduzidas?
Eu hoje acredito que o fato de vivermos em uma sociedade onde TER, CONSUMIR e OSTENTAR são impingidos de forma massacrante em todos os níveis sociais tem parcela significativa na explicação. Não à toa, o funk ostentação é sucesso entre jovens de todas as classes, em especial entre os mais pobres. Há um visível esgarçamento moral. Trabalho, esforço, determinação e respeito ao próximo não dão "Ibope" para grande parte dos jovens. É o prazer que tem que ser alcançada agora, já. Ninguém parece saber ou, se sabe, estar disposto a explicar a diferença entre prazer e felicidade. A felicidade demora e dá trabalho, enquanto o prazer pode ser imediato. Prazer pode-se comprar através de drogas, sexo ou ostentação objetos que denotem riqueza ou poder, e é isso que seduz tantos, e os jovens das classes menos favorecidas não são exceção. Drogas e idolatria do consumo explicam em grande parte essa tragédia que, apesar de atingir uma ou outra vítima jovem de classe média (e aí sim vira notícia), é devastadora principalmente entre jovens pobres e pretos. Os próprios pais muitas vezes tentam, muitas vezes com sacrifício, fornecer os objetos de consumo que vão, acreditam, tornar o filho respeitado por este critério torto. Quando não há quem os forneça espontaneamente, os jovens que se rendem aos apelos da mídia buscam os atalhos do crime para poderem ostentar tênis de marca, cordões de ouro ou de prata, I-phones e roupas de grife. Claro, tem muita gente mais rica e mais instruída que adora estes mesmos deuses: drogas (felicidade química), aparência (plásticas, botox, sessões de 500, 800, mil reais no cabeleireiro) e consumo desenfreado. Depois reclamam. Eles se acham no direito de ostentar porque têm como pagar. Os pobres também querem, mas não têm como bancar a ostentação. Então partem para o crime. Não justifica, mas explica. Vivemos no templo do deus ostentação.