Concessão inédita, publico no blog texto alheio. Vão entender o porquê: Marly Riva, quase oitenta, é talento sensível e arisco, alma de passarinho. Diz que não acredita na beleza de seus cantos. É minha colega nas tardes-noites da Oficina de Textos. Cantou este conto que estava escondido, mas que dou a público neste blog.
Absolutamente
Quando saímos, mãozinha gorducha apertada à mãozona confiável de papai, soprei um fio de voz: “E se eu tiver que deixar o colégio?”
Papai passou pro outro canto do beiço o cigarro que enrolara havia pouco, lacônico: “Absolutamente!”
Perdi-me, em meus nove anos, acostumada a tudo esperar da magnitude paterna. Insisti: “Ela vai brigar, reclamar ou ser boazinha?”
O pai: “É comigo.”
Que caminho longo, doído. Minha cabeça mexia aflita. Desconhecidas ruas, nem era longe, os outros me pareciam estranhos, todos alegres, sem medo do futuro.
Lembro esparsamente do diálogo entre meu pai e a dona do colégio. Ele curto, seco, quase superior: “Vou ficar atrasado com o pagamento, é a primeira vez, saldo quando puder. Problema?”
E ela: “Absolutamente!”
Saí confusa, mas confortada. “Pai, não terei que sair do colégio? Ela disse sim ou não?”
E ele: “Absolutamente!” E enrolou outro cigarro.
Ralph Antunes,
ResponderExcluirConcordo com você, que sensibilidade de texto da Marly Riva. Ela expressou muito bem a emoção da pequenininha "confusa, mas confortada".
Um abraço
Lucia Regina
Sou sua nova seguidora
Adorei o texto!!! Meus parabéns à autora e a você, Ralph, pela sensibilidade de publicá-lo aqui em seu espaço.
ResponderExcluirAdoro esta palavra!!! Diz tudo e, ao mesmo tempo, sozinha na frase, pode não dizer absolutamente nada...
;-)