De repente fui me dando conta de
que estava me tornando amargo. A cada nova notícia sobre o Petrolão, sobre a
compra do Congresso através da liberação de verbas para aprovação do enterro da
Lei de Responsabilidade Fiscal, sobre os números da economia, meu sentimento de
indignação ia se transformando em descrença e desesperança. Dei-me conta de que
boa parte de meus posts na rede social saía recheado de deboche e de cinismo.
Enfim, estava me tornando um chato.
“Mas, espera lá! Como assim?”, disse
para mim mesmo. Depois do raio de esperança que nos deu o julgamento do
Mensalão, com a condenação e prisão, ainda que fugaz, dos que escarneceram da Nação,
estaria sendo decretada a derrota da esperança? Seria a vitória da cara de pau
e da malandragem? Era o aniquilamento definitivo da honestidade e da decência?
A instauração da ditadura do vale tudo? É o que parece, ou parecia.
A amargura que me varava o coração
sinalizava como sendo a prova irrefutável de que começávamos a acreditar que
era assim mesmo. Já achava que os que deixavam o Brasil em busca de um
horizonte mais ameno é que estavam, afinal, com a razão.
Mas eis que um amigo músico
norte-americano de nascimento, mas que vive no Brasil desde os quinze anos, nos
convida para um almoço. Outros convivas foram um fotógrafo francês e um
coreógrafo também americano, mas criado na Suíça, além da namorada portuguesa
de meu amigo. Todos os mancebos radicados no Brasil há muitos anos. (Minha
mulher disse depois que o almoço com pessoas tão exóticas tinha sido muito
interessante, mas me pareceu que os exóticos ali éramos nós, os únicos assalariados
e com emprego fixo).
Conversa vai, conversa vem, regada
por algumas taças de vinho, e lá pela sobremesa o assunto acabou nos
acontecimentos recentes das páginas político-policiais dos jornais virtuais e impressos.
Já estava me preparando para defender o meu combalido país, como quem defende o
amigo bêbado que mexeu com a mulher do outro, muito mais por lealdade que por
sentimento de justiça, quando fui surpreendido por declarações de amor incondicional
a essa nossa terra tão violentada por seus próprios filhos ingratos. Descobri
que, dos três, um já é naturalizado brasileiro e os outros dois aguardavam
ansiosamente a aprovação de seus pedidos de cidadania brasileira. Como assim,
meus amigos, como assim?
E foram estes três brasileiros,
não por nascimento, mas por amor e por opção, que resgataram da sarjeta meu
orgulho amarfanhado e encardido de ser brasileiro. Lembramos então de Tom Jobim
que, tendo experiência cosmopolita, definiu de forma magistral e definitiva a questão:
“Viver no primeiro mundo é ótimo, mas é uma merda; já viver no Brasil é uma
merda, mas é ótimo”.
Então, meus amigos, decidi. Este
país é lindo, é caloroso, é alegre, é rico. E é meu, é nosso. Assim como não
saberia torcer por outro time caso meu Tricolor se acabasse (e Deus sabe como
isso esteve perto de acontecer), também não saberia viver nem torcer por outro
país. Decidi que não vão derrotar minha esperança, não vou deixar que o
escárnio de maus brasileiros, que não merecem a terra onde nasceram, acabe com
o orgulho que tenho do Brasil e da maioria de brasileiros honrados, decentes, honestos
e trabalhadores. Tirem as mãos do nosso país! Não desistiremos.
E amanhã a alegria sairá dos
becos e desfilará triunfal na Avenida, apesar de vocês.
(Obrigado Bruce, Bruno e Steven)